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Mostrando postagens de setembro, 2010

bom humor matinal (tema de casa)

Eu passo longe de ser o tipo de pessoa que acorda feliz da vida. É impossível que alguém acorde feliz. Mais do que isso, é inconcebível acordar feliz. Eu durmo pouquíssimo. Para mim são suficientes de três a cinco horas contínuas de um sono de qualidade. Odeio dormir cedo e acho o sono da manhã o mais revigorante de todos e na noite estou no auge da minha capacidade produtiva, sou fiel às madrugadas. Gosto de dormir às cinco da manhã! O sono das cinco em diante é mais envolvente, é um sono doce, profundo, acolhedor. Às cinco da manhã não há como dizer não pra minha cama. Ela me seduz. A cama me chama sem que eu pense em discutir, engulo todos os argumentos que ainda teria pra não deitar. Tenho quase certeza que há um pacto entre a minha cama e o relógio, do qual sou mera vítima, indefesa. Não ofereço resistência. Luto bravamente contra o sono até esse horário, quando me entrego. O lençol me envolve num abraço acolhedor que não encontrei ao longo do dia. Meus travesseiros exalam o pe

estudo antropológico (I)

Podem me crucificar pelo que vou dizer agora, mas um homem de verdade precisa ter seu futebol semanal. Ou coisa que seja equivalente. E digo mais: pelo menos semanal. Se for mais de uma vez, beleza. Se for um dia de futebol, outro do tênis, mais um de pôquer e outro de paintball, que bom! Se tiver churrasco depois do futebol, melhor ainda. Um atleta precisa repor líquidos, cerveja é válida. Um atleta precisa comer proteínas, ainda que oriundas de uma bela costela pingando gordura em cima do carvão em brasa. Hmmm, até eu fiquei com água na boca! Um homem precisa se reunir com seu clã. Eles precisam gastar energia física e mental em conjunto. Precisam correr, precisam disputar a bola, urrar a cada gol feito – sem dancinhas, por favor. Depois eles precisam comentar cada lance, de preferência durante o churrasco, relembrar o drible, aquela bola no meio das pernas, o chute no travessão. Debocham de quem perdeu como se fossem renegados das cruzadas e minutos depois servem um copo de cerveja

letras minúsculas e páginas em branco

Não, não quero ser única pra alguém. Não como a maioria das pessoas quer. Não quero ser o único amor, não quero ser a única a construir história. Não quero alguém sem história. Não quero alguém sem passado. Não quero alguém que seja uma página em branco, em primeiro lugar porque não acredito que nesta altura do campeonato isso exista. Negar o passado já seria um início mentiroso. Não quero alguém descobrindo em mim do que gosta e do que não gosta. E eu não vou negar nada do que já vivi e senti. Chega de negar, é hora de assumir. Aqui, nesta vida, já se amou e desamou, já foram contabilizados erros e acertos, já se foi feliz ao lado de outra pessoa. É tempo de dizer sim pro que ficou pra trás, é de lá, daquelas experiências que vem o que somos hoje. Tudo que passei até aqui me fez ter opiniões, saber do que eu gosto, o que eu tolero, o que eu repudio. Detestaria ter ao meu lado um ser vazio, esperando pra ser preenchido exclusivamente por mim. Quero trocar, quero que me contem história

tema de casa 1

Este foi o tema de casa da primeira aula do Carpinejar na Perestroika. Escolher alguém do quadro AS MENINAS do Velazquez, escrever como se a pessoa fosse. Lá vai: mão na maçaneta Admiro pessoas que sabem ser discretas. O jeito de vestir, o tom de voz pra falar, os gestos milimetricamente calculados pra não derrubar nada, admiro, porque queria ter esse talento da discrição. Queria saber andar na ponta dos pés e não fazer barulho, mas quando eu tento chegar e sair sem ser notada, acabo deixando pegadas dos meus pés sujos na tapeçaria. É como uma pichação em banheiro de beira de estrada: eu estive aqui. Tenho problemas com a hora da chegada e mais ainda com a hora da saída, pode ser por isso que eu dificilmente digo tchau. Despeço-me de mil maneiras, abraços, sorrisos, piadinhas, sumiços estratégicos, saída à francesa, rapel do oitavo andar. Quanto mais eu tento me esconder, mais eu sou notada. E eu juro que é sem querer. Eu sou o homem da porta. Ao fundo, porém, no meio da tela. O ú

desbotou

- Fui dar uma respirada??? Mas essa respirada durou 5 anos!!! Não foram 5 minutos, tu não sumiu por 5 dias. Tu ficou 5 anos longe de mim! ANOS, A N O S! Ele repetia enfaticamente enquanto ela permanecia imóvel sobre o capacho da porta de entrada. Olhos fixos nele, em todo o movimento e argumentação que se resumia à mesma frase. Repetia incansavelmente. Olhou pra baixo por alguns segundos e percebeu que o primeiro ladrilho do lado de dentro do apartamento ainda estava desnivelado, o que oferecia uma certa dificuldade em abrir e fecha a porta nos dias de umidade mais acentuada. Muitas vezes voltou da faculdade tarde da noite e teve que xingar o ladrilho, a porta, a fechadura e todas as chaves que carregava no chaveiro e nunca acertava de primeira qual abria a porta. Eles foram morar juntos no final do primeiro ano de namoro. Elisabeth não achou precipitado. Olhou de novo pra ele e arrumou a franja que caía nos olhos, tinha dedos longos, unhas curtas pintadas de vermelho. Esperou que e