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Mostrando postagens de 2011

tem uns "nós" na minha história

Sempre fui boa aluna em história – e isso não é uma ironia. História geral, história do Brasil, história da arte, do Direito, da Filosofia, adorava, tirava boas notas. Eu tive professores queridos. Em casa meus pais eram livros de história. Aprendi tudo sobre feudalismo na mesa do jantar com o meu pai. Decorei os atos institucionais com a minha mãe, ouvindo Chico Buarque nos finais de tarde de domingo (um dia ainda descubro por que professores de história amam marcar provas nas segundas-feiras). Aprendi nas aulas as revoluções e aprendi com as revoluções as linhas do tempo, aprendi com as linhas do tempo que eu não gosto de linhas do tempo. Achava uma retilínea chatice. Primeiro que a tal reta nunca cabia direitinho no meu caderno. Segundo que anotar tudo tudinho em linha do tempo é um saco saquinho. Daí eu fazia setas, balões coloridos, legendas impossíveis de entender, puxava pra lá, pra cá em verde, azul, rosa e a linha do tempo era quase uma previsão do tempo, daquelas que

biscoitices

Dessas tantas ruas por onde passo, de todos os caminhos que não decoro, por tudo onde já me perdi, afirmo com certeza que nenhum rumo é plano ou reto. Há sempre uma curva, um degrau, uma pedra, um muro, uma árvore. Eu sou uma desinventora. E o que eu desinvento a mim pertence. O que não pertence, eu furto, ou roubo armada de flores, risada e cara de doida. O que é viver se não é praticar a insana alegria de mais um dia. Rotina não cansa. Desmonto as horas em minutos e na hora de montar novamente sempre sobra um tempo que vira saudade, que vira bobagem, que vira suspiro, que vira só tempo perdido mesmo. O que me aborrece é pensar que quase preciso pedir desculpa pela minha felicidade, como se a tristeza fosse servida junto com as refeições. Não tenho lentes cor de rosa para o mundo, nem sei brincar de contente, mas com tudo que já vem fora de encaixe, não preciso procurar o que mais pode ser alvo do meu descontentamento. Todos temos cicatrizes. Só procuro levar tudo de forma que e

eu sou grande

Andar descalça na grama, sentar na calçada para contar as estrelas, cheirar a caixa nova de lápis de cor, essas são lembranças da minha infância que ainda pratico. Não posso dizer que as resgato porque nunca deixei de fazer. Fazia naquela época que o meu pai cortava a minha franja torta antes do banho. E precisava aquecer no bafo a tesourinha de cortar as unhas. Hoje dou conta da minha própria franja e de todas as minhas unhas. Crescemos nos detalhes. Mais do que aprender a dirigir, trabalhar, cuidar da casa, do dinheiro, do filho e da família, crescer é não abandonar a infância. Não se faz um muro entre as idades. Eu ainda brinco de adivinhar a cor do próximo carro nas viagens chatas. Ainda sento no chão e como com as mãos, faço farelo. Ainda imito peixe nos espelhos e vitrines das ruas, corro dentro de casa para buscar as coisas e caminho de costas para testar se esbarro em algum móvel. Sempre esbarro. A diferença é que antes as quinas miravam a minha cabeça, hoje as vítimas são as

atestado de óbito

Vocês podem achar que eu ando escrevendo muito sobre fins nos últimos tempos. Justifico: tenho pensado muito sobre eles. Observado mais ainda! Escutei histórias, fui informada de fatos, juntei pecinhas. Acabei seduzida por finais. São muito interessantes. Se amar é verbo imprevisível, terminar é verbo definitivo. Isso de vai, volta, volta, vai, não vale. Estou atenta aos finais, à morte do amor, ao momento onde o “tudo aquilo”some. Amor pode evaporar, sabia? Amor não precisa esfriar pra acabar, pode ter fim no auge. E tem mais – agora vou me confessar – ando estudando os fins porque estou bem ruim de começos. Isto é assunto para depois. Não quero desviar o foco do fim. Quero muito falar sobre os pontos finais. Quero saber por que acaba! Eu sei que tem um zilhão de porquês, que variam de vivente para vivente. Eu sei de uma porção de coisas sobre fim de amor. Mas, olhem só, há pouco tempo três histórias de óbito sentimental chegaram ao meu conhecimento. Contarei porque sou líng

baixa dosagem

- Moça, isso tem em comprimido ou é só xarope? - Depende da dosagem. - É baixa... - Vou verificar no sistema, só um momento... Hmmm... - Que foi? - Quantas vezes por dia a senhora precisa tomar? - Uma vez, à noite. - À noite pode provocar insônia. - Mas é a orientação da receita, não? - Sim, mas tomar ciúmes à noite, mesmo com baixa dosagem pode causar insônia, gastrite e DR. - Entendi. E tem em comprimido? - Não, só em xarope. A senhora pode escolher o sabor. Temos ciúmes em diversos sabores! - Sei lá, me vê qualquer um... - Temos futebol com os amigos, chopp depois do trabalho, amigas, futebol... - Sério, qualquer um. - Quem receitou isso para a senhora? - Meu namorado. Ele disse que é impossível namoro sem ciúmes. - A senhora vai ter que pedir pra ele trocar a receita. - Por quê? - Porque esta receita é branca, que é para fazer as pazes. Para ciúmes tem que ser receita roxa. - Roxa?! - Sim, senhora, roxa de ciúmes. -

endereço

Nada do que eu disse foi o que eu quis dizer. Deixei de fazer o que eu queria. Parece que a vida nos desafia a provar que existimos. O fato de não conseguir dizer não significa que eu não quero. Você me tira de mim. Fico procurando nas minhas cartas de desculpas os porquês que eu preciso. Nenhuma diz. Nenhum coringa. Sem cartas nas mangas. Sem cartas na mesa. O jogo é de memória. Muita coisa mudou. Eu me mudei. Precisei me mudar de Vila Vazia. Ocupo muito espaço, ocupo mais que o próprio corpo, gasto sempre mais do que tenho. Sou perdulária de ideias. Não economizo destinos. Além da alma cigana, tenho gosto pelo dramático. Vou mambembe da honestidade da minha caneca de café preto de todas as manhãs aos delírios e inventos das canecas de chá à noite. O líquido reflete realidade e sonho, sem açúcar. Ida e volta no portão de embarque dos pensamentos. Levo a bagagem nos bolsos. Histórias na pele. Saudades nos olhos. Eu me mudei porque estava ocupada demais, cheia de mim por todos o

stomachion das relações

Ele irá acusá-la. Ela irá rebater. Ou vice-versa. A briga acontecerá, será inevitável. Romances esbarram em placas de pare erguidas pelas particularidades das pessoas. Esquecemos que no relacionamento não somos um, continuamos dois. Quando lembramos, ditamos que sempre fomos assim e que nada mudará: ele me conheceu exatamente deste jeito. Está errado. A maioria dos solteiros – aqui falo tanto em homens quanto em mulheres – desalmados, egoístas e promíscuos que eu conheço se transformam em seres agradáveis, doces e fiéis quando amam. Amor exige disposição. O amor requer muito do que jamais nos foi dito. Você irá mudar, talvez nem perceba. Mudará sem evitar. Por isso ao acabar o relacionamento é comum que o outro diga que agora caiu a máscara. Calma, alto lá. Somos seres em constante mudança, unimos a nós o nosso meio. Por isso prefiro sempre evitar as brigas. É comum que o casal pense que poderá ficar junto sem ser diferente, mas sempre um pede que o outro se transforme. Ela co