Raica é uma gata sem raça que eu chamo carinhosamente de franga por causa da pelagem carijó. Foi abandonada em uma rodovia federal quando era tão pequena que mal sabia tomar leite no pires. Tinha mais pulgas do que pelos quando veio morar comigo. Foi amor imediato, sempre gostei de vira-latas, ainda mais com focinho cor de laranja. Ela tem lindos olhos verdes e o mesmo olhar de ressaca de Capitu, olhos de água. A Raica tem uma personalidade maravilhosa, adoro os deboches que ela faz. É praticante da arte do incômodo. Analisa os outros como quem separa feijões para o almoço. É uma pequena usurpadora. Se eu descuido do meu vinho, ela toma. Levanto da cama, ela deita no travesseiro. O melhor lugar do sofá é o dela. Ela também tem o melhor lugar do inverno quando a lareira está acesa, lugar de destaque no presépio quando é natal, deita em cima do jornal quando estou lendo e morde meus lápis quando rabisco. Quando tem frio, se aquece no George Hagi – peludíssimo Himalaia blue point –,
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