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Mostrando postagens de abril, 2011

errata

Oi. Vim desdizer. Só vim pra desdizer, essa é a grande verdade das próximas linhas. Isto não é uma crônica, é uma borracha. É um backspace, um ctrl + z, um delete, um eject. Entendam como bem quiserem, porque duvido mesmo que alguém se disponha a querer de fato entender. Supor é mais fácil. Prever é mais cômodo. E quer saber? Certo está quem faz isso. Aquele medo que eu havia mandado sentar no canto está aqui na minha frente, rindo da minha cara, dizendo “eu te avisei”. Chutaria ele, mas não costumo fazer isso com quem tem razão. O medo é o grande vencedor, leva todos os prêmios. Leva todas as vidas. Abraça a todos. É o sentimento mais confortável, porque não se foge dele. O que não é bom, queremos longe e ninguém ou quase ninguém – faz isso com o medo. Pelo contrário, o medo é mantido pertinho. Sem enfrentamentos, sem discordar, nada se questiona. Medo é a perfeição da preguiça. Amar dá trabalho. Sentir medo, não. O amor é importante, porra. Vi isso pichado num muro. Parem. Não é

o genérico da ritalina

Já confessei minha inquietude várias vezes. Já disse que raramente sossego, que estou sempre mexendo em alguma coisa, pinicando alguém, atormentando um gato. Adoro passear pela casa desalinhando algum quadro, trocando fotografias de lugar. Adoro transplantar a vegetação. Se estou quieta ou estou lendo ou morri. Aconselho verificar. Mesmo dormindo, minhas ideias estão acontecendo. Percebo isso quando eu acordo, parece que não descansei, mas pensei sobre muitos assuntos. Minha mente é inquieta. Meu cérebro não respeita ordem, organização, hierarquia. Leio três livros por mês, às vezes mais. Nunca primeiro um depois o outro. Sempre tudo ao mesmo tempo. Estou concentrada numa coisa, outra vem e invade, emendo as duas, pronto. Prejudiquei o soneto. Falo sobre coisas grandes enquanto penso em pequenices e vice-versa. Inicio na lista do supermercado. Termino na previsão do tempo. Sendo que passei pelo horóscopo no meio dos assuntos. Durante um café alguém me disse “tu és uma usina”, referindo

porta aberta

Por vezes fico assombrada com as palavras que brotam de mim. Entre o signo e o significado, creio sem dúvidas no que sinto. Mesmo que seja anônimo. Exploro, questiono. Por vezes descubro algo mais além. Por vezes me contento com a dúvida não respondida, não pela comodidade, mas pela alegria de guardar segredos que eu mesma desconheço. Não conseguir me decifrar não faz de mim fraca, porque sei me aceitar inclusive nas  fraquezas. Conto amores nos dedos. Conto fatos inventados nos dias que passaram por mim nas poucas vezes que estive parada. Derramo observações sobre posturas, gestos e falas, analiso entrelinhas e mensagens subliminares. Verifico a pele traduzindo histórias. Quando o rosto esboça o riso, já desenho o delírio. Quando a pupila turva em água, sou expectativa. Para a mão que procura a minha, saudações. Já enterrei alguns amores de faz de conta, adverti para que não me levassem a sério. O cenário era a única coisa real, o amor era travestido, máscara, fantasia, estava aco

heidegger não me cai bem

(da série dialoguinhos) - Era uma vez eu. E ele. Na verdade, eram muitas vezes, uma porção de eu e um montão deles. Não que eu fosse muitas todas de uma só vez, ainda que eu tenha quase certeza de ter múltiplas personalidades, muitos medos de desenvolver patologias, de ser dominada por uma de mim que não é exatamente quem eu sou e jamais voltar a ser eu mesma. Enfim... uma frota de eu, uma frota de eles. Os tempos eram outros, outros princípios, outras visões sobre tudo, outras opiniões, maturidade, objetivos, responsabilidades e vida. Porém, todas essas que eu fui, não eram apenas filhas das situações que eram muitas vezes. Era uma vez cada uma das situações, onde – sim – influenciavam na eu, mas além disso, tinha um pouco de eu dentro de mim. Entendeu? - Não. - Bom, vou mais adiante. Era eu, mas não a eu de agora. Todas eu que fui foram inéditas. Surgidas dos imprevistos que a vida impõe. Cada uma uma particularidade e ainda um núcleo fundamental, imutável. Nesse núcleo, as d

não pratico outono

É assim mesmo que acontece. Acordo, abro a janela, como sempre faço, sinto a primeira luz do dia, respiro o ar da primeira brisa que invade o quarto como se tivesse passado a noite inteira do lado de fora da persiana, esperando por este momento. Depois disso eu afasto as cortinas, achando que entra mais luz, mais ar, mais claridade. Ainda estou descalça, com a cara amarrotada e o cabelo em pé. Dou bom dia ao dia, que seja bom, que seja doce, como Caio Fernando Abreu me ensinou a fazer. Paquero o céu, querendo que ele me diga se pretende chover ou se devo me preparar para uma queda de temperatura. Por aqui, outono e primavera levam a sério o emprego de meia-estação. É fim de calor com início de frio. Pela manhã casaquinho, pela tarde água gelada, à noite edredom. Com muita sorte, meias listradas. Com mais sorte ainda, meu lado esquerdo ocupado. Convivo bem com esse meio-termo das estações. No outono espero ansiosa pelo inverno. Gosto de bater queixo, fungar, ficar com a ponta do n

desarmada e perigosa

Não sou do tempo das cartas de amor. Sou no máximo do tempo de bilhetes em guardanapos. Eu gosto dos recados curtos de amor. Compenso a economia de palavras nos gestos. Isso não me leva a comprar cartões com dizeres ou me utilizar do que alguém já disse, não. Uso as minhas palavras originais de fábrica, ainda que encontre nas citações alheias e nas canções muito do que eu quero dizer. Escolhi viver o amor, viver a paixão. Escolhi das declarações ditas nos olhares, impressas nos gestos ou declaradas de improviso, daquelas em que as palavras se conhecem e casam na hora. Minhas declarações são um sem-fim de sem-tempo. São quase impensadas, quando não são de fato! Tenho vivido mais, ando mais crente. Falo aqui tanto de Deus, quanto dos destinos e das energias que podem aproximar as pessoas. Tenho vivido o que acredito. Tenho encontrado o escambo de informações, filosofias, palavras, carinhos, peculiaridades que me absorvem como faria um buraco negro. Tem sido interessante me entregar às