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Mostrando postagens de julho, 2011

dra. bebezinha

Eu quis muito uma irmã. Queria mais que tudo. Não dei sossego aos meus pais até ver a barriga crescer. Esperei aflita a confirmação: é menina. Pronto, a barriga da minha mãe passou a ser minha caixinha de música, grudava o ouvido esperando que a minha irmãzinha fizesse algum barulho. Ela chutava muito. Escolhi o nome: Renata – homenagem tricolor prontamente bem recebida pelo meu pai. Renata já nasceu linda. Foi linda enquanto criança, linda adolescente – o que é raro – e segue linda. É de admirar cada traçado perfeito, é harmônica, suave e exuberante. É a minha princesa. Se eu pudesse escolher alguém no mundo pra ser minha irmãzinha, escolheria ela. Claro que já brigamos, já discutimos, mas jamais passamos um dia sem nos falar. Jamais passamos um dia sem nos amar. E ser amada por ela é uma das melhores coisas que pode acontecer. Minha mana é minha parceira, amiga, filha, mãe, irmã mais velha, irmã mais nova. É a alegria do meu café na cozinha, quando desfiamos fofocas com a gelad

amor

(segundo texto da série) Desculpem, mas é mentira. Se alguém disse que o amor vai bater na sua porta, é mentira. Irão bater cobradores, carteiros entregadores, jornaleiros, pedintes, vendedores, panfleteiros, visitantes, andarilhos, perdidos, desocupados, catequistas. O amor não. Ele não bate na porta, quando a encontra fechada, ele pula a janela. Mas o amor é raro e esquece do começar. Ele acontece. Sem que ninguém saiba dizer quando ou definir por que, o amor apenas existe. E quem ama não precisa entender, nem vai. Amará e pronto. Quem muito quer explicar perderá o tempo de amar. E vai gastar latim à toa, o amor fala a língua dos loucos. O amor não é procurar a metade da laranja ou a tampa da panela. Não é encontrar na carta de vinhos o que mais combina com o prato principal. É temperar junto. Amor não vem pronto, mas pode ser instantâneo, inexplicável, fatal. Amor não tem motivo, ignora os porquês e não vem quando a gente chama. Ando discordando de um montão de gente em

paixão

(primeiro texto da série*) As paixões são como ventanias que enfunam as velas dos navios.  Algumas vezes os submergem, mas sem elas não se pode navegar.  (Voltaire) Uma patrola desgovernada, esta sou eu apaixonada. Por favor, não façam essa cara de horror. Todo o apaixonado é qualquer coisa desgovernada. Eu apenas assumo a falta de direção, de rumo, de jeito de medida, a falta de mim, a falta do outro. Assumo todos os excessos, uso os sapatos dos superlativos. As intensidades vêm morar em mim. Minutos viram horas, o telefone que não toca causa dramática asfixia. Morro lentamente ao descer a escadaria imaginando que preciso ir embora. Lamento a distância de passos. Sou mais atenta nos instantes dele, desatenta do resto, criativa no mundo. Crio legendas para o silêncio que me constrange. Agito os olhos. Qualquer música lembra o contorno do corpo fazendo sombra no teto do quarto. Lembra a luz que entrava pela janela porque a noite era de lua cheia quando falamos por telefone. R