Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2012

oral b

Coleciono desastres. É sério. Eu sou um desastre pra um montão de coisas: dançar junto, fazer pudim, empinar pipa, acender lareira e fazer surpresa. Eu entrego a surpresa antes do tempo. Não sei conter a minha expectativa, apresso os resultados. Dizem que o apressado come cru, pois eu sou tão apressada que sirvo cru pro outro comer. Não sei comprar presente antes e esperar pra dar. Preciso esconder o pacote. Esconder de mim, claro. Dou bandeira. Pergunto se prefere verde ou azul, sendo que eu já comprei verde mesmo. Fico medindo a pessoa pra ver se vai servir. Não sei brincar de quente e frio, já vou apontando logo: aqui é a Sibéria, pra lá é o Caribe. Há anos minha irmã organizava as festas surpresa de aniversário pra mim. Cabia a mim exercitar a paciência, enrolando as horas pra chegar em casa a tempo de fingir que não sabia de nada, vendo os balões e o bolo. Hoje ela organiza a própria festa e eu a surpreendo invadindo. A data dos nossos aniversários tem diferença de uma seman

não resolvido

Eu disse que não vou. Instantes depois, já estou voltando. Pratico boicotes contra as minhas resoluções, pratico auto-desobediência. Tentei elaborar uma série de promessas de ano novo. Tudo que eu consegui foi encontrar motivos pra não cumprir nenhuma. E antes da meia-noite. Antes do brinde que acompanha desejos ao pé do ouvido entre abraços fraternos. As estrelas não testemunharam porque a noite era nublada. Tentei pendurar no nada as minhas decisões e o nada, com a umidade da noite, borrou a letra imaginária da minha lista inexistente. Sou do tipo das inresoluções. Em vez de resolver errar menos. Resolvo escolher o erro. Errar bem feito. Mas não vou fazer. Sou desgovernada o suficiente para atropelar até mesmo a escolha dos meus equívocos. Então, que eu possa ao menos reconhecê-los. Que me sirvam de lição. Um dos meus maiores problemas é que sempre fiz o tema de casa. Podia até ser relapsa no comportamento. Tema de casa, independente da quantidade, estava sempre feito. Sigo

quase poema de primeira pessoa

Olhos alagados em que o brilho mergulha sempre, imerso, tão dentro que é difícil saber o porquê de morar lá. Apenas mora. Fez da pálpebra cabana do riso, brilho branco, noite e dia, hora espalha na íris, hora derrama na retina. Entre ondas de vento que saem dos cílios e suspiros, peito cheio. As malas do coração estão sempre prontas, não para mudar de casa, mas para voltar pra onde quer que seja. Um peito aberto não é um peito vazio. Passam pela nuca fios, sensos, metal, dedos, tateando com as pontas teclados que não existem mas fazem música até encontrarem as costelas justas na pele. Costuradas ali sem folga, uma a uma desenhando a sombra que as velas fazem dançar na parede. A barriga abriga trilhas, segredos, borboletas, umbigo, monstros e castelos com dragões. Desses que incomodam, acordam cedo, fazem fumaça de cetim em lençol de nevoeiro no inverno. E sentem cócegas. Esses bichos que não se pode precisar sequer a cor. Dragões são desiguais aos pares. Não encontram posição no