As nossas conversas são boas e as nossas mudices são melhores. Entendo que as nossas mudices são conversas sem palavras. Entendo que eu tenho conversado muito assim, mais ouvindo. É um hábito que tenho desde criança, absorvo a alma lendo os gestos, decifrando códigos, montando as palavras nas frases como um quebra cabeça de intenções. Por mais que eu fale, que eu goste de escrever, meu interesse é ouvir. Não desperdiço um bom estranho. Nem um conhecido. Alguns amigos me conhecem há tanto tempo que me confundo nas lembranças, nossas histórias fazem uma trama, apesar dos longos períodos distantes. Gosto de quando sentamos no sofá olhando pro mesmo nada da parede, depois recebo um agrado com o dedo indicador escorregando pelo meu nariz. É minha deixa pra sorrir sem mostrar os dentes, iniciando a pauta da noite. Aguardo pela análise detalhada, pelo de deboche que acaba, invariavelmente, em traçar um perfil psicológico da situação. Está feita a minha análise. Nunca me zanguei por isso, a...
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