Pular para o conteúdo principal

42

A tentação de um erro é muito grande. Quando o erro é bom, é enorme. Não adianta tentar convencer de que não é um erro, tenho tendência a querer alguns deles. Os propositais me fascinam. Sabe erro que vem em loop. Tu já o erraste uma vez, passou, e ele vem de novo, tu vês a onda se formando. Mergulho? A resposta é óbvia, se mergulhar tu sabe que vai tomar caldo, sabe que vai se afogar. Até voltar à superfície serão muitas braçadas. E o que se faz? No máximo tampa o nariz com os dedos: indicador e polegar. Que maravilha. A sensação de estar mergulhada nesse equívoco e não ter ninguém por perto que possa jogar uma bóia.
 
Esta sou eu. Parada na frente desse mar de falhas que eu já conheço. Oi, já fomos apresentados? Sim, mas eu não quero que tu me pague nenhuma bebida.

Estou só sentindo o vento e observando as ondas se formarem. Uma hora são inofensivas marolinhas. Em segundos, são tsunamis. Ainda estou parada, contemplando, escolhendo o melhor momento de sair correndo e tapar o meu nariz. Na areia estão poucas pessoas que sussurram em coro: não vai, não vai. E por que eu sou tão teimosa? E por que eu quero ir? Sabem quantas vezes eu já me afoguei?
 
Perdi as contas.
 
Sabem quantas vezes eu gostei?
A maioria delas.
 
Por isso são tão tentadores estes erros.
 
O fato é que o perfume, a textura da barba roçando no meu rosto antes do beijo, o toque, o abraço e todo o filmezinho que antecede o mergulho fatal, me seduz. Fico remoendo as palavras que já foram ditas e o olhar profundo. Os sorrisos cínicos e os verdadeiros, que eu nunca quis saber diferenciar.

Aquela ardência nas narinas da água salgada, tentar sair, querendo ficar mais um pouco, braçadas pra lugar algum. Confesso,  sair viva, olhar pro mar que eu enfrentei e venci, é o desafio que me ganha. Talvez algumas histórias nunca devam ultrapassar as cortinas azuis. Ultrapassar as janelas é tarefa para outros tipos de pessoas, não o tipo certo de pessoa errada. Pelo menos posso pintar meu mar da cor que eu escolher.
 
Cílios longos são a minha ruína.

----
 
Verdades verdadinhas da semana:
Só ainda não decidi se as digo por  ordem de acontecimento ou de importância... Vai por ordem de lembramento.
 
- Não pegue, não aperte, não sufoque, não se mova. São bons conselhos.
 
- Vida profissional, ok. Acadêmica, ok. Familiar, ok. Amigos, ok. Boa mãe, boa filha, boa amiga, boa aluna, boa profissional... esqueci de alguma coisa?!
 
- Nunca há certeza quando os fatores do produto são duas pessoas. Se forem de sexo oposto, então, a equação não comporta prova real.
 
- Desenruga esta testa. Desfaz este beiço. Isso tudo é teatro requentado!
 
- Tem dias que quero aprender, outros prefiro ensinar. Mas na maioria deles, eu só quero mesmo sorrir.
 
- Deve ser muito chato ser a regra. Prazer, exceção.
 
----
AMOR ERRADO - FERNANDA PORTO
Eu pensei que pudesse esquecer um amor errado



Indo embora de casa, cortando o cabelo, escrevendo cartas


Eu sonhei que o tempo bastaria


Que nunca mais quando fosse noite


Viria o rosto, o volume dos ombros


O cheiro de pescoço encostado...

Acreditei em poder suportar certas misérias, deitada sozinha


Não percebi que o amor estava confundido às ferragens da alma


Ele vem atrás, ele vem atrás até quando estamos dormindo...dormindo!

Eu pensei que ele aceitasse ser abandonado


Mas percebi que fica enroscado nos tornozelos da gente


Rosnando baixinho para ser ouvido até mesmo, até mesmo debaixo dechuva, debaixo de chuva.

Eu pensei que pudesse esquecer um amor errado


Eu pensei que pudesse esquecer um amor errado


Debaixo de chuva...


(até o fim)

Comentários

Anônimo disse…
Assustadoramente divina.
Carlos disse…
Mergulha Kuky! Mergulha!
Unknown disse…
Mergulhaste por águas profundas desta vez senhorita. No ponto da vida que estamos, de tanto já ter mergulhado por ai, nada mais nos coloca medo.
Anônimo disse…
Aprendi a ser sua fã.
Jéss disse…
Mergulhos cada vez mais fundos no mar profundo.. Vai lá, e volta viva!

Adoro teus textos!
artur disse…
Ruiva, destemida, inteligente, linda. Tenho mais de mil motivos para sempre ler os teus encantos. Beijos
Guilherme disse…
42?
BETO disse…
Bocuda, surra de laço em vc, ja está avisada. Bj

Postagens mais visitadas deste blog

(des)graças virtuais

Lembram que há posts atrás comentei sobre um fato engraçado que havia acontecido, mas eu não podia ainda contar porque não sabia como? Pois bem... contarei. Antes, é sempre bom lembrar que não é nada pessoal, tudo em nome da literatura. Faz de conta que aconteceu com a prima de uma amiga da sobrinha da vizinha da minha irmã. Ah, eu gosto de inventar personagens para fatos reais e me agradam fatos fictícios para personagens reais, também me autorizo complementar a verdade, inventar outras e ajeitar do jeito que eu bem entendo. Já que sou eu quem escreve, eu posso tudo. Não sou democrática quando escrevo. Nem quando tenho fome. Era uma vez, uma festinha. Dessas festinhas que acontecem todas as semanas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas reunidas, que a gente já tem até uma noção do que vai tocar, do que vai acontecer, de quem vai encontrar. Essas festas onde não precisamos de dons mediúnicos pra prever incomodação ou com quem se vai embora, melhor, com quem não se vai em...

poucos gigas

Eu não sou boa fisionomista. Não sou boa em lembrar dos rostos das pessoa que conheci. Se eu preciso encontrar alguém, tento lembrar da roupa que estava usando e se for “o Fulano, que estava bebendo água com a gente em tal lugar”, vou lembrar da marca da água, se era com ou sem bolinhas, como o Fulano bebia, onde era o lugar e o que fizemos, mas provavelmente, não me lembrarei do rosto da pessoa. Às vezes eu não presto muita atenção no rosto, escuto o que a pessoa fala, fico atenta aos gestos... pelo menos em uma primeira conversa. Sou detalhista demais pra prestar atenção apenas no rosto. A menos que a pessoa seja muito marcante já à primeira vista. Tive uma paixão adolescente no colégio. Por todo o segundo grau, na verdade. Era um menino que nunca estudou comigo, nunca namoramos, mas éramos declaradamente apaixonados um pela companhia do outro, pela nossa sinceridade e pela maneira como jamais nos cobramos nada. Havia um pacto branco de jamais mentir. Havia um pacto branco de não ...

estudo antropológico (I)

Podem me crucificar pelo que vou dizer agora, mas um homem de verdade precisa ter seu futebol semanal. Ou coisa que seja equivalente. E digo mais: pelo menos semanal. Se for mais de uma vez, beleza. Se for um dia de futebol, outro do tênis, mais um de pôquer e outro de paintball, que bom! Se tiver churrasco depois do futebol, melhor ainda. Um atleta precisa repor líquidos, cerveja é válida. Um atleta precisa comer proteínas, ainda que oriundas de uma bela costela pingando gordura em cima do carvão em brasa. Hmmm, até eu fiquei com água na boca! Um homem precisa se reunir com seu clã. Eles precisam gastar energia física e mental em conjunto. Precisam correr, precisam disputar a bola, urrar a cada gol feito – sem dancinhas, por favor. Depois eles precisam comentar cada lance, de preferência durante o churrasco, relembrar o drible, aquela bola no meio das pernas, o chute no travessão. Debocham de quem perdeu como se fossem renegados das cruzadas e minutos depois servem um copo de cerveja...