Pular para o conteúdo principal

indicador rebelde

Eu dedilho o tampo das mesas do mindinho ao indicador quando estou com pressa. O dedão fica fixo, observando o trabalho em vão dos colegas, como se aquela agitação pudesse acelerar as pessoas ou o ponteiro do relógio. Não faço uma nem duas vezes, faço centenas. Mão esquerda ou mão direita e as duas juntas, quando os dois dedões - um de frente pro outro - se distraem conversando sobre o tempo. Não faço no sentido contrário, meu indicador não é um bom batuta, a mania perde o ritmo. Poucas coisas são tão ruins quanto manias descompassadas. Manter a ordem de uma mania, como a hierarquia discreta entre os dedos, cada um levantando, baixando ao seu tempo, tocando o tampo com pressões distintas, adequadas para o mesmo som exige aperfeiçoamento. Meus indicadores não possuem este dom da regência, não são obedientes, são traidores. Mais que isso, são desonestos.


A minha pressa é muito exata. As minhas manias são muito organizadas. São moças que estudaram em colégio de freira, com saia plissada e meias longas, do tipo que pouco se vê hoje em dia. Elas estão em mim, porém, são diferentes de mim.


Eu comporto um universo, mas não me comporto.


Meus indicadores apontam sempre o caminho oposto ao que a minha boca fala. Eu digo esquerda, eles apontam a direita. Ainda que o caminho correto seja pegando a direita e que eu não tenha a menor noção de direção – o que vale pra mim é dobra pra lá, dobra pra cá – os indicadores trapaceiam no desejo de me perder. E quando eu quero me encontrar, apontam – precisamente – a pessoa errada.


Apesar de tudo, eu sou uma boa causa, o que complica é que eu sou meio urgente.


Quero os gostos em tempo real. Quero as felicidades já, quero os risos sinceros, quero ouvir uns nãos de verdade. Não perco tempo com as jogadas ensaiadas, fazendo de conta, dizendo que não quando tem um sim luminoso piscando na minha testa. Eu não gosto de sentir nada abreviado, mas empilho sentimentos, sem muitas explicações. Atropelo sem maiores cerimônias. Se me desagradam as entradas nada discretas que eu faço, as saídas triunfais, nem comento. Mas não faço por mal... sempre tenho muita pressa em ir embora porque tenho urgência em saber se vou voltar. Minhas incógnitas fazem parte do meu show. Minhas ambiguidades, minhas indecisões, minhas certezas líquidas e decisões de porcelana, nada consegue ser perpétuo. O que eu combino pode ser descombinado e posso mudar a regra do jogo que eu inventei. O mundo é muito dinâmico pra eu ser estática. Eu tenho pressa. E tenho dedos traidores.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~


La ecsplicación soy djhô

(mi espanhol es fueda!!!!)


E quando eu disse nunca mais com o dedo – o mesmo desonesto – em riste, saindo pra qualquer lado, entrando no carro de qualquer jeito, ele deu risada, me pedindo pra baixar o vidro. Eu, ainda com o dedo em riste e uma fileira de xingamentos loucos pra saltarem da ponta da minha língua, baixei. Puxei o ar. Ele pegou meu indicador com a mão, encostou no meu nariz e disse:


- Tu não podes mais reclamar que os teus cabelos são rebeldes, tu inteira é rebelde.


Os xingamentos voltaram pro fundo da boca, engoli todos, um por um. No meu rosto, um sorriso se desenhou com giz, como aquele que as professoras do primário desenhavam no sol, no canto do quadro.


Foi o primeiro que ganhou esse sorriso.

E perderá tantos outros.


*****

Definitivamente, eu não funciono muito bem.
É divertido.


*****

Retrato de costas, tentando domar o indomável bêlo. Quando quero liso, ele enrola, quando quero ondas, ele escorre.



Sometimes (I Wish) - City and Colour

If I was a simple man,

Would we still walk hand in hand?

And if I suddenly went blind,

Would you still look in my eyes?

What happens when I grow old?

And all my stories have been told?

Will your heart still race for me?

Or will it march to a new beat?

If I was a simple man





If I was a simple man,

I'd own no home, I'd own no land

Would you still stand by my side?

And would our flame still burn so bright?





Sometimes I wonder why,

I'm so full of these endless rhymes

About the way I feel inside

I wish I could just get a ride





If I was a simple man

And I could make you understand

There'd be no reason to think twice

You'd be my sun; you'd be my light

If I was a simple man...

If I was a simple man...





Sometimes I wonder why

I'm so full of these endless rhymes

About the way I feel inside

I wish...

Sometimes...












































Comentários

Thiago disse…
Kuky e rebeldia, qual a novidade?
beijos
Carlos disse…
A Música abaixo, de um tempo quando o mundo ainda era em P&B, fala por mim...
http://www.youtube.com/watch?v=58iKc9CZOo8
Que foto ESPETACULAR!!!
Um Beijo em cada um daqueles ossinhos no final (ou no começo) da nuca!
Anônimo disse…
eu sempre me identifico com aquilo q vc escreve.
Beijos
Amandinha
Roberto disse…
Sorriso de giz :)

Postagens mais visitadas deste blog

(des)graças virtuais

Lembram que há posts atrás comentei sobre um fato engraçado que havia acontecido, mas eu não podia ainda contar porque não sabia como? Pois bem... contarei. Antes, é sempre bom lembrar que não é nada pessoal, tudo em nome da literatura. Faz de conta que aconteceu com a prima de uma amiga da sobrinha da vizinha da minha irmã. Ah, eu gosto de inventar personagens para fatos reais e me agradam fatos fictícios para personagens reais, também me autorizo complementar a verdade, inventar outras e ajeitar do jeito que eu bem entendo. Já que sou eu quem escreve, eu posso tudo. Não sou democrática quando escrevo. Nem quando tenho fome. Era uma vez, uma festinha. Dessas festinhas que acontecem todas as semanas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas reunidas, que a gente já tem até uma noção do que vai tocar, do que vai acontecer, de quem vai encontrar. Essas festas onde não precisamos de dons mediúnicos pra prever incomodação ou com quem se vai embora, melhor, com quem não se vai em...

poucos gigas

Eu não sou boa fisionomista. Não sou boa em lembrar dos rostos das pessoa que conheci. Se eu preciso encontrar alguém, tento lembrar da roupa que estava usando e se for “o Fulano, que estava bebendo água com a gente em tal lugar”, vou lembrar da marca da água, se era com ou sem bolinhas, como o Fulano bebia, onde era o lugar e o que fizemos, mas provavelmente, não me lembrarei do rosto da pessoa. Às vezes eu não presto muita atenção no rosto, escuto o que a pessoa fala, fico atenta aos gestos... pelo menos em uma primeira conversa. Sou detalhista demais pra prestar atenção apenas no rosto. A menos que a pessoa seja muito marcante já à primeira vista. Tive uma paixão adolescente no colégio. Por todo o segundo grau, na verdade. Era um menino que nunca estudou comigo, nunca namoramos, mas éramos declaradamente apaixonados um pela companhia do outro, pela nossa sinceridade e pela maneira como jamais nos cobramos nada. Havia um pacto branco de jamais mentir. Havia um pacto branco de não ...

estudo antropológico (I)

Podem me crucificar pelo que vou dizer agora, mas um homem de verdade precisa ter seu futebol semanal. Ou coisa que seja equivalente. E digo mais: pelo menos semanal. Se for mais de uma vez, beleza. Se for um dia de futebol, outro do tênis, mais um de pôquer e outro de paintball, que bom! Se tiver churrasco depois do futebol, melhor ainda. Um atleta precisa repor líquidos, cerveja é válida. Um atleta precisa comer proteínas, ainda que oriundas de uma bela costela pingando gordura em cima do carvão em brasa. Hmmm, até eu fiquei com água na boca! Um homem precisa se reunir com seu clã. Eles precisam gastar energia física e mental em conjunto. Precisam correr, precisam disputar a bola, urrar a cada gol feito – sem dancinhas, por favor. Depois eles precisam comentar cada lance, de preferência durante o churrasco, relembrar o drible, aquela bola no meio das pernas, o chute no travessão. Debocham de quem perdeu como se fossem renegados das cruzadas e minutos depois servem um copo de cerveja...