Pular para o conteúdo principal

cuidado, ele me cuida

Tempo com o Eduardo nunca é gasto. É investimento. Não perco nada com ele. Ele soma e me multiplica em tudo. As tarefas exigem mais mãos. Alcanço o copo de água com uma, seguro ele no banco com outra, ainda mexo a comida na panela, pingo o detergente na esponja porque ele resolveu ajudar lavando a louça enquanto preparo a janta. Sem falar no fôlego, mal inspiro entre uma dúvida e outra. Os porquês que ele não tem vontade de saber, inventa, é especialista em descobrir assunto onde não há.

Nunca me ensinaram a ser mãe. Jamais me disseram o que eu devia ou não fazer com um filho. Mas aprendi com Eduardo que os pais devem fazer o favor de não atrapalhar. Além de dar educação e torná-lo consciente das responsabilidades.

Não posso sufocar meu filho com as minhas expectativas ou meus conceitos de certo e errado. Mas devo sempre ensinar que ele tem escolhas. Que as escolhas exigem responsabilidades. Não posso escolher por ele, os pais têm mania de achar que são onipresentes. Mesmo nas minhas ausências, ele vai precisar agir conforme os valores que eu o apresento. Isso tudo optando por ser feliz. Ou seja, a tarefa de um filho é tão complicada quanto a dos pais. Não há como ter certeza de que se está no caminho certo.

O que eu faço com o Eduardo é concentrar grande amor e atenção, para isso, observá-lo é fundamental. Gosto de sair com ele. Gosto quando ficamos sozinhos e podemos conversar. Uma criança de dois anos e dez meses tem maravilhas para dizer. Não posso atrapalhar o pequeno nas suas considerações, não posso atrapalhar na personalidade que ele tem.

Eduardo é uma criança fabulosa, decidido ao extremo. Tem claro o que quer e o que não quer, sabe do que gosta. É dotado de uma ironia que disfarça a inocência. Reconheço nele o mesmo jeito que eu viro os olhos quando o assunto me aborrece. O jeito de abrir a boca pra prestar atenção em alguma coisa interessante. A impaciência com filas e o péssimo humor com fome, a luta eterna contra o sono. Mas ele tem outras coisas que não sei de onde tira: o imediatismo e a inflexibiliadade. É um pequeno anarquista teimoso. Militante dos próprios caprichos.

Já falei outras vezes que ele é um bom observador. Agora ele começou a comentar o que observa: “aquele titio está triste”. As observações agora vêm com instigantes verbalizações:
- Os grilos são mais espertos que as lesmas?
- Por quê, filho?
- A lesma não fala.
- E o grilo fala?
- Sim.
- O que ele diz?
- Cri, cri, cri.

Ele está estabelecendo relações de comparação, por isso preciso cuidar dos exemplos que dou – minha grande preocupação. Sempre seremos parâmetros para os filhos, por mais que ele tenha a personalidade dele e eu não possa atrapalhar, minhas atitudes são importantes parâmetros de decisão.

Eu nem sempre estarei presente, mas meus traçados vão fazer parte dos limites dele. O superego vai se desenvolver com as noções de certo e errado baseadas nas observações e nas comparações. Como os grilos e as lesmas ou a identificação da tristeza por alguma razão, Eduardo vai julgar sem a minha presença. O superego vai sempre resgatar as linhas que já estão sendo traçadas, ele vai decidir quando elas podem ser ultrapassadas. Avaliará riscos, como faz agora quando decide abandonar a banheira e tomar banho no chuveirinho.  

Lya Luft disse que em matéria de filhos, devemos obedecer a sinalização das estradas de ferro: pare, observe, escute.

É assim que ajusto a sintonia com o Eduardo. Conversamos muito, empatamos em idade. Aprendo com ele os meus limites. Aprendo com ele a resgatar a educação que meus pais me deram. Nossos vínculos são estreitos, conversamos por olhares. Fazemos eco nos nossos valores para que se propaguem.

Ontem Eduardo deitou no meu colo, me fez um carinho no rosto e falou “eu te cuido”.

Já percebi. Ele cuida tudo.
Eu preciso me cuidar com isso.




Pérola do Fido: mamãe, tá escuro. Mas se eu não dormir fica claro?!


Crianças acreditam que podem mudar até o horário do sol nascer. Minha resposta: só fica claro depois de dormir. O sol não nasce quando as crianças estão olhando.

Ele resolveu dormir.
Ou ficou acordado escondido pelo simples prazer de testar o sol.


Aguardarei as futuras manifestações.


----

All My Love (música que Fido tem amado!)

Should I fall out of love, my fire in the light?
To chase a feather in the wind
Within the glow that weaves a cloak of delight
There moves a thread that has no end

For many hours and days that passes ever soon
The tides have caused the flame to dim
At last the arm is straight, the hand to the loom
Is this to end or just begin?

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now

The cup is raised, the toast is made yet again
One voice is clear above the din
Proud Aryan one word, my will to sustain
For me, the cloth once more to spin

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Yeah all of my love to you child

Yours is the cloth, mine is the hand that sews time
His is the force that lies within
Ours is the fire, all the warmth we can find
He is a feather in the wind

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now

All of my love, oh love yes
All of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, love

Sometimes, sometimes
Sometimes, sometimes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey

Oh yeah, it's all, all, all of my love
All of my love, all of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, to, to you and you, and you and yeah

I get a bit lonely, just standing up
Just standing up
Just standing up lonely
Just I get a bit lonely



Comentários

Bruna Millidiu disse…
Lindo, lindo, lindo! Amo vocês dois!
Carlos disse…
Show de Bola, Kukynha!
Nestes primeiros anos de vida o Fido está "arquitetando" toda a vida dele... Ter uma Kuky no seu "pertinho" (minha Filha dizia assim)é praticamente uma certeza de sucesso.
Fotos Lindas!
Z. disse…
Óinnnn! Fido é vida!

Postagens mais visitadas deste blog

(des)graças virtuais

Lembram que há posts atrás comentei sobre um fato engraçado que havia acontecido, mas eu não podia ainda contar porque não sabia como? Pois bem... contarei. Antes, é sempre bom lembrar que não é nada pessoal, tudo em nome da literatura. Faz de conta que aconteceu com a prima de uma amiga da sobrinha da vizinha da minha irmã. Ah, eu gosto de inventar personagens para fatos reais e me agradam fatos fictícios para personagens reais, também me autorizo complementar a verdade, inventar outras e ajeitar do jeito que eu bem entendo. Já que sou eu quem escreve, eu posso tudo. Não sou democrática quando escrevo. Nem quando tenho fome. Era uma vez, uma festinha. Dessas festinhas que acontecem todas as semanas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas reunidas, que a gente já tem até uma noção do que vai tocar, do que vai acontecer, de quem vai encontrar. Essas festas onde não precisamos de dons mediúnicos pra prever incomodação ou com quem se vai embora, melhor, com quem não se vai em...

poucos gigas

Eu não sou boa fisionomista. Não sou boa em lembrar dos rostos das pessoa que conheci. Se eu preciso encontrar alguém, tento lembrar da roupa que estava usando e se for “o Fulano, que estava bebendo água com a gente em tal lugar”, vou lembrar da marca da água, se era com ou sem bolinhas, como o Fulano bebia, onde era o lugar e o que fizemos, mas provavelmente, não me lembrarei do rosto da pessoa. Às vezes eu não presto muita atenção no rosto, escuto o que a pessoa fala, fico atenta aos gestos... pelo menos em uma primeira conversa. Sou detalhista demais pra prestar atenção apenas no rosto. A menos que a pessoa seja muito marcante já à primeira vista. Tive uma paixão adolescente no colégio. Por todo o segundo grau, na verdade. Era um menino que nunca estudou comigo, nunca namoramos, mas éramos declaradamente apaixonados um pela companhia do outro, pela nossa sinceridade e pela maneira como jamais nos cobramos nada. Havia um pacto branco de jamais mentir. Havia um pacto branco de não ...

estudo antropológico (I)

Podem me crucificar pelo que vou dizer agora, mas um homem de verdade precisa ter seu futebol semanal. Ou coisa que seja equivalente. E digo mais: pelo menos semanal. Se for mais de uma vez, beleza. Se for um dia de futebol, outro do tênis, mais um de pôquer e outro de paintball, que bom! Se tiver churrasco depois do futebol, melhor ainda. Um atleta precisa repor líquidos, cerveja é válida. Um atleta precisa comer proteínas, ainda que oriundas de uma bela costela pingando gordura em cima do carvão em brasa. Hmmm, até eu fiquei com água na boca! Um homem precisa se reunir com seu clã. Eles precisam gastar energia física e mental em conjunto. Precisam correr, precisam disputar a bola, urrar a cada gol feito – sem dancinhas, por favor. Depois eles precisam comentar cada lance, de preferência durante o churrasco, relembrar o drible, aquela bola no meio das pernas, o chute no travessão. Debocham de quem perdeu como se fossem renegados das cruzadas e minutos depois servem um copo de cerveja...