Pular para o conteúdo principal

não resolvido


Eu disse que não vou. Instantes depois, já estou voltando. Pratico boicotes contra as minhas resoluções, pratico auto-desobediência. Tentei elaborar uma série de promessas de ano novo. Tudo que eu consegui foi encontrar motivos pra não cumprir nenhuma. E antes da meia-noite. Antes do brinde que acompanha desejos ao pé do ouvido entre abraços fraternos. As estrelas não testemunharam porque a noite era nublada. Tentei pendurar no nada as minhas decisões e o nada, com a umidade da noite, borrou a letra imaginária da minha lista inexistente.

Sou do tipo das inresoluções. Em vez de resolver errar menos. Resolvo escolher o erro. Errar bem feito. Mas não vou fazer. Sou desgovernada o suficiente para atropelar até mesmo a escolha dos meus equívocos. Então, que eu possa ao menos reconhecê-los. Que me sirvam de lição.

Um dos meus maiores problemas é que sempre fiz o tema de casa. Podia até ser relapsa no comportamento. Tema de casa, independente da quantidade, estava sempre feito. Sigo assim, com os estudos, com as análises, pensando até sair fumacinha. Minha resolução de ano novo foi deixar que eu me surpreenda com o improviso. Em vez de detalhar o perfil e traçar comportamentos, aceitar que posso ter que mudar de ideia. Acho que não vai dar. É geralmente nessas situações que eu corro sem rumo. Atravesso continentes sem dar tchau, trocando o lugar da saudade.

Queria dormir mais, dormir melhor. Sinceramente, acho que não preciso. É mais um desejo para agradar alegrias alheias. Ficariam felizes de me ver mais sonolenta, aproveitando a noite na cama, dormindo. Em vez disso ando batendo os pés por aí, enroscando as mechas desalinhadas da minha franja em armação de óculos, letras, aspas, outras franjas, notas musicais, sinceridade, sentimentos e girassóis. Não preciso dormir. Sonho acordada. Dormir bem requer muito chá. Eu gosto mais de café.

Prometi ser mais empenhada em procurar os sentidos das minhas escolhas. Percebi que isso não faria o menor sentido. Desisti porque sentido é passado de verbo sentir. E este eu quero conjugar sempre na primeira pessoa do singular: eu sinto (muito).

Há uma resolução que talvez mereça meu empenho em ser cumprida: continuar sem nenhuma tatuagem na pele. Cicatrizes, sardas, arranhões, manchas são bem recebidas. Essas historinhas meio sem querer que ficam gravadas sem permissão. Às vezes somem. Minhas canelas abrigam hematomas como se fossem caixeiros viajantes, são hospedarias movimentadas. Culpa da minha agitação – com uma pitada de babaquice. Sem tatuagens, não quero expor o íntimo além da nudez. E realmente, não saberia o que tatuar. Sempre tive muitas ideias pra tatuagem. Ficavam ultrapassadas antes que escolhesse o tatuador: borboleta, dragão, frases, apelido, letra de música, estrelas, gatos, infinito, passarinhos. A mais sensata talvez tenha sido uma simples palavra: vento. Com a minha própria letra. Mas explicar o porquê já seria ficar nua além da nudez. Quem sabe outra hora.

Resolvi não ter resoluções. Vou apenas descumprindo. 


o vento e eu, história de amor. 
Devoção.




Wind Of Change

I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change
An August summer night
Soldiers passing by
Listening to the wind of change


The world is closing in
Did you ever think?
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
I can feel it everywhere
Blowing with the wind of change


Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away (Dream away)
In the wind of change


Walking down the street
Distant memories
Are buried in the past forever


I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change


Take (take) me to the magic of the moment
On a glory (glory) night
Where the children of tomorrow share their dreams (Share their dreams)
With you and me (You and me)


Take (take) me to the magic of the moment
On a glory (glory) night
Where the children of tomorrow dream away (Dream away)
In the wind of change (Wind of change)


The wind of change blows straight
Into the face of time
Like a storm wind that will ring
The freedom bell for peace of mind
Let your balalaika sing
What my guitar wants to say


Take (take) me to the magic of the moment
On a glory (glory) night
Where the children of tomorrow share their dreams (Share their dreams)
With you and me (You and me)


Take (take) me to the magic of the moment
On a glory (glory) night
Where the children of tomorrow dream away (Dream away)
In the wind of change (Wind of change)




Comentários

Carlos disse…
Prometa apenas nunca deixar de ser Kuky!

Postagens mais visitadas deste blog

(des)graças virtuais

Lembram que há posts atrás comentei sobre um fato engraçado que havia acontecido, mas eu não podia ainda contar porque não sabia como? Pois bem... contarei. Antes, é sempre bom lembrar que não é nada pessoal, tudo em nome da literatura. Faz de conta que aconteceu com a prima de uma amiga da sobrinha da vizinha da minha irmã. Ah, eu gosto de inventar personagens para fatos reais e me agradam fatos fictícios para personagens reais, também me autorizo complementar a verdade, inventar outras e ajeitar do jeito que eu bem entendo. Já que sou eu quem escreve, eu posso tudo. Não sou democrática quando escrevo. Nem quando tenho fome. Era uma vez, uma festinha. Dessas festinhas que acontecem todas as semanas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas reunidas, que a gente já tem até uma noção do que vai tocar, do que vai acontecer, de quem vai encontrar. Essas festas onde não precisamos de dons mediúnicos pra prever incomodação ou com quem se vai embora, melhor, com quem não se vai em...

poucos gigas

Eu não sou boa fisionomista. Não sou boa em lembrar dos rostos das pessoa que conheci. Se eu preciso encontrar alguém, tento lembrar da roupa que estava usando e se for “o Fulano, que estava bebendo água com a gente em tal lugar”, vou lembrar da marca da água, se era com ou sem bolinhas, como o Fulano bebia, onde era o lugar e o que fizemos, mas provavelmente, não me lembrarei do rosto da pessoa. Às vezes eu não presto muita atenção no rosto, escuto o que a pessoa fala, fico atenta aos gestos... pelo menos em uma primeira conversa. Sou detalhista demais pra prestar atenção apenas no rosto. A menos que a pessoa seja muito marcante já à primeira vista. Tive uma paixão adolescente no colégio. Por todo o segundo grau, na verdade. Era um menino que nunca estudou comigo, nunca namoramos, mas éramos declaradamente apaixonados um pela companhia do outro, pela nossa sinceridade e pela maneira como jamais nos cobramos nada. Havia um pacto branco de jamais mentir. Havia um pacto branco de não ...

estudo antropológico (I)

Podem me crucificar pelo que vou dizer agora, mas um homem de verdade precisa ter seu futebol semanal. Ou coisa que seja equivalente. E digo mais: pelo menos semanal. Se for mais de uma vez, beleza. Se for um dia de futebol, outro do tênis, mais um de pôquer e outro de paintball, que bom! Se tiver churrasco depois do futebol, melhor ainda. Um atleta precisa repor líquidos, cerveja é válida. Um atleta precisa comer proteínas, ainda que oriundas de uma bela costela pingando gordura em cima do carvão em brasa. Hmmm, até eu fiquei com água na boca! Um homem precisa se reunir com seu clã. Eles precisam gastar energia física e mental em conjunto. Precisam correr, precisam disputar a bola, urrar a cada gol feito – sem dancinhas, por favor. Depois eles precisam comentar cada lance, de preferência durante o churrasco, relembrar o drible, aquela bola no meio das pernas, o chute no travessão. Debocham de quem perdeu como se fossem renegados das cruzadas e minutos depois servem um copo de cerveja...