Eu quis muito uma irmã. Queria mais que tudo. Não dei sossego aos meus pais até ver a barriga crescer. Esperei aflita a confirmação: é menina. Pronto, a barriga da minha mãe passou a ser minha caixinha de música, grudava o ouvido esperando que a minha irmãzinha fizesse algum barulho. Ela chutava muito. Escolhi o nome: Renata – homenagem tricolor prontamente bem recebida pelo meu pai.
Renata já nasceu linda. Foi linda enquanto criança, linda adolescente – o que é raro – e segue linda. É de admirar cada traçado perfeito, é harmônica, suave e exuberante. É a minha princesa. Se eu pudesse escolher alguém no mundo pra ser minha irmãzinha, escolheria ela. Claro que já brigamos, já discutimos, mas jamais passamos um dia sem nos falar. Jamais passamos um dia sem nos amar. E ser amada por ela é uma das melhores coisas que pode acontecer.
Minha mana é minha parceira, amiga, filha, mãe, irmã mais velha, irmã mais nova. É a alegria do meu café na cozinha, quando desfiamos fofocas com a geladeira. Renata é o fio da meada. Intensa, teimosa, dramática, chorona. Lembro da quantidade de coleguinhas maus que ameacei de morte lenta e cruel no pátio da escola. Lembro dos segredos confessados quando dividíamos o quarto. E das brigas pelas roupas comunitárias. Aliás, bagunço até hoje o armário dela de propósito, mesmo que não faça empréstimo de nada. Resgato a infância pela desordem.
A Renata os mesmos pais que eu, ama nossos avós, ama meu filho como se fosse dela. Ainda assim, é meu eterno bebezinho. Faço todas as vontades, cubro de mimos. Muito já acobertei, mas não tanto quanto fui acobertada. Testemunha dos meus pileques de verão. Testemunha dos meus desamores, xingamentos, revoadas. Quando penso que chego com uma mania nova, ela já foi apresentada. Declaro uma paixão, ela marca na folhinha o prazo de validade. Juro que vou ficar em casa, ela lembra de deixar a chava na janela. Quero falar bobagem, ligo pra ela. Quero falar sério, ligo pra ela. Não quero falar, ela me liga. Quando não me entende, não me condena.
É sutil pra me repreender.
Ninguém manda em mim tanto quanto ela. Parece um general.
Sempre tive orgulho da minha bebezinha, pelo caráter, pelo coração, pela alegria de fazer o que gosta. Ama receber as amigas, ama o noivo, ama organizar o natal, ama assistir jogo aos domingos e ama a família reunida. Somos uma boa equipe.
Dia dezesseis de julho de dois mil e onze será o dia mais importante do ano. Aguardado e planejado há tempos. Formatura de medicina. Renata é médica desde que se entende por gente. Não dessas que olha para o paciente como uma fração de probleminhas. Nunca foi assim. Renata quer debulhar a pessoa. É médica que vê o paciente como pessoa, quer saber dele inteiro. Desossa. Sabe criança que desmonta o brinquedo pra ver como funciona? É ela. A preocupação é global. A pessoa chega com conjuntivite e ela vai além do olho. Manda embora com a receita do colírio, lembranças pra mãe e descobre o nome do cachorro.
Ela é meu orgulho por essa sensibilidade e pela dedicação. Quantas vezes abracei e sequei o choro do medo da prova? Quantas vezes acordei às 4 da manhã com ela estudando na sala? Quantas festas da turma invadi? E amigas que furtei e adotei? E as irmãs dela que se tornaram minhas? Quantos litros de café compartilhamos, ela pro estudo, eu pro vício. Sofri junto as expectativas das notas, as confusões de turma, de grupos. Fui cobaia, fui paciente. Fui enrolada em velpeau de verão e de inverno! Fui testada em todos os pontos de fibromialgia:
- Ai!
- Dói?
- Claro, olha como tu me aperta!
- E aqui?
- Aiê! Óbvio que dói... Ta se aproveitando pra me maltratar.
- Shhhh, quieta. E aqui?
- AAAAI!
- Dói?
Adorei e detestei professores, participei dos casos de alguns pacientes sempre com a mesma sugestão: “Mana, dá rivotril, Tavares disse que cura tudo.” E por falar em Tavares, é dele a frase “Ah, essas irmãs Heine... como são inexplicáveis”. Somos mesmo. E somos irmãs.
Meus pais subirão ao palco para passarem às mãos da Renata o diploma. As mesmas mãozinhas que pintaram o treco de chaves que ainda está pendurado na parede da cozinha. As mesmas mãozinhas que fazem cócegas no Duca, que me beliscam, que cutucam o Vinícius. E ela vai continuar sempre sendo a minha bebezinha, a minha irmãzinha.
Minha irmã, a médica.
Live And Let Die
Paul McCartney
Composição: Paul McCartney / Linda McCartney
When you were young and your heart was an open book
You used to say live and let live
(You know you did, you know you did, you know you did)
But if this ever-changing world in which we live in
Makes you give in and cry
Say live and let die
(Live and let die)
Live and let die
(Live and let die)
What does it matter to you?
When you got a job to do
You got to do it well
You got to give the other fellow hell
You used to say live and let live
(You know you did, you know you did, you know you did)
But if this ever-changing world in which we live in
Makes you give in and cry
Say live and let die
(Live and let die)
Live and let die
(Live and let die)
Comentários
Beijos para vocês!
O Mestre tem razão: és ainda mais Linda por dentro...
Parabéns pra Dra. Rena e Parabéns pra ti por ter contribuido para esta conquista dela!!!
isso nao se faz!!!!
eu nao consigo para de chorar um dia só!!!!!
ameiiii ficou maravilhosooo!!!!
vc sabe que eu te amo mais que tudo so nao tem o dom das palavras como vc!!! mas como ja falei outras vezes e no video de formatura vc é minha irma de sangue e alma!!!! te amoooo mana vc é o maximooooo