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Mostrando postagens de agosto, 2011

ciência, arte e nós com isso...

Nunca comprei um relógio que já viesse com a hora certa. Mesmo quando a vendedora arrumava na loja, ainda não era a minha hora. Oito minutos na frente caminham os meus relógios. Os   que pararam por falta de pilha, assim marcavam. Oito minutos nos ponteiros, mas não no meu tempo. Esse voa. E porque meu tempo é diferente do cronológico, com meus tic-tacs atípicos, eu não uso relógio. Gosto de ter, ganhar, comprar. É um objeto lindo, cheio de simbolismos. Quando falei sobre deles e da hora certa, estava falando de pessoas. Nunca vi os ponteiros das pessoas marcando hora certa já de início. Nem presenciei ponteiros que não precisassem de ajustes com o passar do tempo. Cada um tem seu tempo e seu espaço. Isso é real, é fato, é científico. Einstein se dedicou a escrever sobre a teoria da relatividade restrita. Esta é diferente da primeira teoria da relatividade, de Newton, onde as forças e espaços são iguais para todos os observadores inertes. Einstein não disse que Newton estav

as vírgulas de van gogh

Certa vez eu me comprometi em ter modos. Nesta vontade doida que eu tenho de viver, sentir, fazer tudo, esquecia as valiosas pausas. Emendava um fato no outro sem perceber que muito precisa respirar. E que eu preciso respirar também. A maior prova de que não sabia fazer isso eram as constantes crises de soluço. O meu diafragma debochava de mim. Aprendi a respirar melhor, a colocar vírgulas nos períodos longos. Pontuação na história da vida vale economia de aborrecimento. Melhora a chance de visualizar o momento. Van Gogh pintava vírgulas. Muito se discute sobre a saúde mental dele, sobre os comportamentos e o quanto disso era transferido para a arte. A obra conhecida hoje só fez sucesso depois da morte, porque em vida, vendeu apenas um quadro. Apesar de ter quatro irmãos, Theo era o único com quem conversava, era também o único amigo. Mas voltando para as vírgulas de Van Gogh, em especial as destacadas em Noite Estrelada (1889), para mim as estrelas são muito mais sóis. Ele pinto

janela

Interessante como criança faz o que só mais tarde se explica. Quando eu tinha por volta de oito anos, minha avó me deu um calendário de advento, estava há anos na família, alguém trouxe da Alemanha. É uma brincadeira infantil para contar os dias que faltam para o natal. O calendário é a fachada de uma vila, onde a igreja fica no centro. A contagem dos dias inicia em primeiro de dezembro, quando se abre a primeira janelinha. Todas as janelas são numeradas até a véspera do natal, dia 24, quando o que se abre é a porta da igreja, mostrando a celebração cristã pela representação de um presépio. Nos outros dias, as janelas abertas revelam cenas de preparação, famílias juntas, crianças rezando. Os traços antigos do desenho são rústicos e perfeitos. Colocando uma vela atrás do calendário cheio de fungo, amarelado pelo tempo, o colorido parece dar quase pele às pessoas de papel. Abria todas as janelas, mesmo já sabendo o que tinha atrás de cada uma. A minha favorita era a que mostrava duas cri

aquela coisa

*terceiro e último! Costumo ser o terror dos dicionários. Eles me detestam por inventar palavras, transformo nomes próprios em adjetivos, conjugo subjetivos, faço uma verdadeira orgia de palavras. Sempre quero inventar uma maneira inédita de dizer coisa simples, pelo prazer único de testar complicações imaginárias. Olho assim, com cara de criança que enfiou o dedo no bolo antes da hora de cantar parabéns.   Espero ansiosa que me implorem explicação sobre o dialeto. Por maldade, muita vezes, não explico. As interrogações são amigas. Ou navalhas. É mania do mundo dar nome pra tudo. Antes mesmo de saber o sexo do bebê, já se pensa no nome. Apressa-se o batismo. E se a criança não tem a cara do nome? Os pais escolheram Leonardo, nasce um menino com cara de Marcelo. Os pais escolheram Laura, nasce uma menina com cara de Patrícia. Não deixamos nada ser anônimo em paz, pelo menos um apelido precisamos colocar. Tem um apelido que serve pra tudo: “ aquela coisa”. “Aquela coisa” n