Casar anda muito moderno. Mais moderno do que casar é manter-se casado. Em tempos onde o divórcio é presenteado com facilidades, conservar o estado civil contratado pelo casamento é um desafio moderníssimo.
Os casais insistem em casar. Insistem mais do que em permanecerem casados. Às vezes o matrimônio exige insistência – a maioria das coisas que se faz em dupla exige, mas não sei porque em matéria de casamento a palavra insistência vem acompanhada de revirar de olhos e bufadas. A insistência não é ruim. Os maiores e os menores feitos da humanidade são paridos da insistência, até aquelas descobertas acidentais.
Adoro casamentos, tenho cerimônias de núpcias em todos os finais de semana de outubro. Haja vestido! Acho linda aquela hora que os noivos trocam olhares de cumplicidade. Gosto mais ainda quando cochicham qualquer coisa deixando o público curioso. O noivo fala baixo no ouvido da noiva. A noiva ri. Todos ficam curiosos. Ah... juras de amor! Ou pequenas piadinhas entre o casal. Rir junto é muito íntimo.
Eu tive a honra de ser convidada para madrinha do casamento de um amigo. Um que nós sempre pensamos que jamais casaria. Casou e passa bem. Segundo ele, muito bem. Estivemos reunidos essa semana para ver as fotos da lua-de-mel pela Europa e ganhei de presente – por ser dinda querida – uma caixa de bombom italiano chamado Bacio, da tradicional Baci Perugina. Sabendo que eu sou apaixonada por chocolates, resolveram me trazer “beijos docinhos”, como dizia o cartão. Os chocolates são uma delícia, cada um vem com um recadinho na embalagem. Muito inteligente esse chocolate, percepção apurada do beijo. Sempre acreditei que o beijo fosse um recado, eu errei. O beijo é o mensageiro. É o carteiro do sentimento. O recado vai do empenho, do cuidado, da interpretação de quem é beijado. Beijo entrega interesse ou desdém.
Tom Robbins escreveu que “o beijo é nossa maior invenção”. Melhor que isso só inventar dentro do beijo.
Um beijo com identidade aproxima o casal. São códigos como os olhares dos noivos. São os carteiros das cartas de saudade, de pedidos para chegar mais perto, entregam a paixonite adolescente, o amor de doer e o desinteresse passageiro. O beijo descompromissado que vai ser esquecido, negado, indiferente.
Aperitivos de mais beijos. O beijo pede como a esfinge: decifra-me ou te devoro.
Tenho uma teoria de que o primeiro beijo entre as pessoas é sempre ruim. Ou o pior. A gente vai lembrar dele pela eternidade, mesmo depois de anos de casamento. Já conheci casais que comemoravam o dia do primeiro beijo. E ele sempre vai ser aquele onde as bocas demoraram pra falar a mesma língua. Porque beijo é o dialeto da intimidade.
O beijo é uma unidade que ultrapassa a boca, ultrapassa o próprio corpo. Henri Toulouse-Lautrec, francês, nanico, bêbado, boêmio e apreciador de ruivas – ah, ele também enlouqueceu em Paris! -, era dedicado a retratar a vida noturna parisiense. Entre um e outro cálice de absinto usava das cores para imprimir impressões da sua realidade. Em uma dessas obras, denominada NA CAMA, reproduziu um casal deitado, um de frente para o outro, cobertos até o queixo, olhos abertos, porém pesados. Nitidamente conversavam. Aproveitavam as cobertas como se fosse a toalha da mesa de jantar.
Antes disso, outra pintura chamada NO BEIJO DA CAMA, Henri retratou um casal aparentemente nu, com os corpos costurados por um abraço e arrematados por um beijo. Pela forma com que os braços se contornam, há intimidade entre o casal. Quase se pode sentir carinho, inclusive porque o homem está beijando com os olhos não totalmente fechados. Ele espia a parceira.
Um beijo de olho aberto não se satisfaz apenas de carinhos, de gosto, ele quer ver. Beijar de olho aberto é capturar em vez de imaginar. É roubar no jogo. É trapacear para ter mais de quem é beijado. Não partilho da ideia que beijo de olho aberto é insegurança. Pra mim é abuso mesmo. É gula pelo outro. É desespero para não deixar escapar nada à lembrança.
Beijo bom é canto mudo. É ponto final, fim de papo. É poesia de improviso. É pedido,mas é roubado. É descuido pra tomar o ar. É a melhor invenção, mais eficiente mensageiro do carinho. Beijar vai além, mas só se sabe disso beijando.
Foto tirada pelo Fido. Três anos e muita malandragem!
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TEORIA: Henri (o francês, nanico, bêbado...) é mais um que colabora para a minha teoria. Artistas plásticos que vão para Paris ficam doidos. Tem alguma coisa na água daquela cidade, ou no ar, ou no pó... Eu desenho bem direitinho, LOGO, me considero artista plástica de talendo, LOGO, nem me convidem para ir a Paris! Nem que eu sofra - e como sofro!-, me deixem sofrer por aqui. Ou me levem para sofrer na praia, na serra, em NY. Morro de medo de voltar numa camisa de força.
CURIOSIDADE: Dizem os demais bêbados que Henri foi quem inventou um drink chamado terremoto. Obviamente a bebida leva absinto. Todos os bêbados de Paris bebiam absinto. E eram fofoqueiros. Hoje em dia a bebedeira parisiense é bem mais democrática, cada um bebe o que quer. Mas seguem fofoqueiros.
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Não se admire se um dia,
um beija flor invadir
A porta da tua casa,
te der um beijo e partir
Foi eu que mandei o beijo
que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo,
ai que saudade d'ocê
Se um dia ocê se lembrar,
escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio,
com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo,
quero matar meu desejo
Lhe mando um monte de beijo
ai que saudade sem fim
E se quiser recordar
aquele nosso namoro,
quando eu ia viajar
Você caía no choro,
eu chorando pela estrada,
mas o que eu posso fazer
trabalha é minha sina
eu gosto mesmo é d'ocê
um beija flor invadir
A porta da tua casa,
te der um beijo e partir
Foi eu que mandei o beijo
que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo,
ai que saudade d'ocê
Se um dia ocê se lembrar,
escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio,
com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo,
quero matar meu desejo
Lhe mando um monte de beijo
ai que saudade sem fim
E se quiser recordar
aquele nosso namoro,
quando eu ia viajar
Você caía no choro,
eu chorando pela estrada,
mas o que eu posso fazer
trabalha é minha sina
eu gosto mesmo é d'ocê
Comentários
Bacios dos afilhados, dinda!
Gui & Biba
então, se um dia te convidarem... vai sem medo... Paris não oferece riscos... em compensação tenta evitar Budapeste, principalmente se tu não gostares de manga...
belo texto
bj.
lu