Cometo os mesmo erros há séculos, me prometo absurdos, me juro de morte, me digo que não com o dedo em riste e quando eu vejo... ops. Delícia. A desobediência me sorri banguela. Eu retribuo o sorriso.
Não consigo negar um impulso, ele me seduz. Sou fraca pra evitar alguns fracassos. Diria mais, preciso testar alguns, coisa que se começa sabendo como acaba: mal. É só pra confirmar, sim, eu tinha razão, gênio. Mas precisa se jogar de tão alto? Precisa ir tão longe? Avançar o sinal, atravessar a rua sem olhar pros dois lados, não usar o cinto, isso é normal. Os meus descuidos são prazeres que não posso me negar. Viver envolta em plástico bolha não faz meu estilo. Não aprendi a nadar em águas rasas. Mais que isso, simplesmente não sei nadar em águas rasas. Preciso que não dê pé. O risco me fascina, faz sentir o pulmão encher de ar e quando o risco vira fato e se perde a noção de qualquer limite, não tem frase feita. Não há tempo pro ensaio. O improviso vira realidade. Um rascunho que não foi passado a limpo.
Pode não ser belo, mas é original. Não me prendo em belezas convencionais.
O que me convence é acumular tudo e decidir com o que encher o meu baú de guardados. Preciso deixar que algumas recordações criem poeira suficiente que eu não possa reconhecê-las. Preciso guardar junto o que me faz bem e o que me faz mal, guardar também o que eu tento esquecer. Guardo em diversos tempos verbais, conjugo frases em diálogos que jamais aconteceram, onde eu apenas fiz o meu teatro.
O que se guarda, volta.
Eu gosto quando volta e o olho brilha. Eu gosto quando volta e a lágrima cai. Eu gosto quando volta e alguma coisa acontece, quando explode, quando o peito aperta, quando some o ar. Levem meus pulmões, o ar alguém já levou.
Só não me atrai quando volta e acontece o nada. Me fere mais minha própria indiferença do que a indiferença terceirizada. Quando eu não reajo – bem ou mal – ou quando a inércia vem morar em mim, quer dizer que o baú de guardados também tem tranqueira. Peças daquelas que não servem pra nada. Guardei achando que um dia usaria. Passo reto por ela, nem me fere, nem me agrada. Nada.
Não gosto.
Há charme na dor, não me importo com ela. Ar blasé está na moda.
Há mais alegrias, não nego, posso esconder ou mentir pra não perder a história. Ah, sim, eu faço isso. Não confiem cegamente em quem escreve, o objetivo é sempre confundir!
Alguns guardados me fazem cicatrizes, coleciono. Outros, os que fazem um roxinho, daqueles que qualquer hirudoid soluciona, não quero. Preciso que me digam que quando casar sara.
Sou dos extremos, gosto do desmedido. Gosto da intensidade. Se é pra cair, que seja lá de cima. De mil pedaços, me refaço.
E é daqui que escrevo agora, de cima desta nuvem indefinida. Será que chove? Me traz a luz que eu faço o sol. Vim parar aqui por descuido. Mais um proposital. Mais um não meu que eu estou desobedecendo, com muito prazer. Um impulso, um fracasso, uma boa história. Cada um no seu papel, escolhendo o seu pecado. De alguns males, eu não morro. De outros, eu faço questão de viver!
(E o pior é que dá samba!)
Da série verdades verdadinhas da semana. Categoria filosofia ao vento:
Quem me provoca, me tira o sono, me dá de presente a insônia.
Me dar um sonho seria clichê demais.
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Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna, a nossa cama reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.
Chico.
Comentários
Te Adoro!
bj