(primeiro texto da série*)
As paixões são como ventanias
que enfunam as velas dos navios.
Algumas vezes os submergem, mas
sem elas não se pode navegar.
(Voltaire)
Uma patrola desgovernada, esta sou eu apaixonada. Por favor, não façam essa cara de horror. Todo o apaixonado é qualquer coisa desgovernada. Eu apenas assumo a falta de direção, de rumo, de jeito de medida, a falta de mim, a falta do outro. Assumo todos os excessos, uso os sapatos dos superlativos. As intensidades vêm morar em mim. Minutos viram horas, o telefone que não toca causa dramática asfixia. Morro lentamente ao descer a escadaria imaginando que preciso ir embora. Lamento a distância de passos. Sou mais atenta nos instantes dele, desatenta do resto, criativa no mundo. Crio legendas para o silêncio que me constrange. Agito os olhos.
Qualquer música lembra o contorno do corpo fazendo sombra no teto do quarto. Lembra a luz que entrava pela janela porque a noite era de lua cheia quando falamos por telefone. Revivo o que não aconteceu. Acredito em telepatia, sinastria, mandinga, simpatia, cartomancia. Acredito em qualquer coisa que não explique.
Paixão não tem explicação. Esconde os porquês no bolso da camisa. Pesam no peito, mas não queremos saber deles. O coração já está tão descompassado que o peso das dúvidas é só mais um. Há um provérbio que diz que quem pensa não casa. Pois quem explica não se apaixona. A paixão debocha da racionalidade. Ri da lógica. Divide as contas com resto, com troco. Quem se apaixona casa. Eu caso na hora. Caso de caso impensado. Vou lá e caso, com a mesma certeza de quem pede refrigerante light. Com a mesma coragem de quem vai ao boteco e bebe leite.
A paixão dá golpe de estado para decretar a anarquia.
Não existe paixão pensada. É admitido o beijo de surpresa, aquele que se aproveita da pausa para o suspiro. É quando se faz castelo de areia movediça e se caminha em algodão doce. É ter cara de besta. A paixão faz repetir o nome da pessoa em voz alta quando se está sozinha, faz fechar os olhos para visitar as palavras que já foram ditas, procurar as vírgulas que não foram ouvidas.
É irônica como atear fogo no quartel dos bombeiros. Desmedida. Insistente. Inconveniente. Inesperada porém bem-vinda. É saltar antes de verificar o equipamento de segurança.
Eu, apaixonada não tenho garantia. Peça-me o infinito, eu trago embrulhado em papel celofane, com laço de fita mimosa. Peça-me um mundo que eu invento. O impossível? Eu mando fazer. Eu faço chover, eu danço na chuva, corro nua. Eu preciso de abraços de camisa de força porque paixão é o nome curto da insanidade. É escrever o nome de seis letras no espelho embaçado do banheiro. É ter soluço porque desaprendeu a respiração. É ser afoito, precipitado. É talhar perfeição. É urgente.
Paixão é o atraso antes da hora marcada.
Eu sou perigosa quando me apaixono. Sou terrorista. Sequestro estrelas. Penduro sorrisos no lugar de quadros nas paredes. Faço tsunami em banheira e tempestade em colher de sopa. A minha paixão é sócia do clube do caos e praticante de felicidade explícita. Louca e dócil.
Apaixonada, eu faço carnaval em julho. E não explico a fantasia.
Osama Bin Kuky
* HISTORINHA RAPIDINHA: conversando com o querido amigo Adalberto Bueno, prometi fazer um post sobre o amor, porque discordei de uma citação de Goethe que ele postou no facebook. Eu disse que Goethe deveria continuar entendendo de rua enquanto eu seguia entendendo de amor (eu sei que eu não entendo, mas quem entende? quem quer entender? quem precisa?). A ideia do amor se desdobrou em três, iniciando pela paixão e terminando só Deus sabe onde. Falei terminando? Não, não... que seja eterno. Pelo menos enquanto dure...
Ah, só uma OBS., a série deveria se chamar "um blábláblá sobre iêiêiê romântico", mas o Adalberto Querido Bueno achou péssimo. Aceito sugestões.
Grata.
Música, maestro.
Paixão
Kleiton e Kledir
Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar...
Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecheclair
De repente
A gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar...
Depois do terceiro
Ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim
Nem por ninguém...
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar...
Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar...
Tens um não sei que
De paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou...
E esta é pra Dedé!
E pra Zabeti!
Comentários
amei de paixão (hahaha) o post. Coisa boa ler teus escritos.
Beijos,
Bru-Cu.
BJ