Pular para o conteúdo principal

iPod

Um dia eu abri o olho e tudo que antes era nítido tinha virado um borrão. Todas as obras perfeitas e acabadas voltaram a ser rascunhos. Ou nunca deixaram de ser e eu pensei que sim. Talvez o Lucas tenha razão e eu também deva me permitir morrer aos 16. Ter eternos 16 e aceitar que a maioria tem. Por que justo eu levar tão a sério? Por que justo eu ser tão levada a sério?




A maioria dos sentimentos que eu conheci na minha vida teve a profundeza de um pires. E eu paguei a conta todas as vezes que fui intensa e desmedida. Paguei a conta todas as vezes que prometi não ter cuidados e pular do bungee jump. Caí no buraco por andar de olhos fechados. E sempre fui culpada por ser quem eu era, quem eu sou e agir como eu ajo. Sempre fui apontada, carreguei o baú.



Não gosto de ser insignificante. Não gosto de entrar na vida de ninguém se não for pra fazer um maremoto. Eu gosto de mudar, amo me reinventar, sou um camaleão. Já ouvi isso no sentido pejorativo, mas a grande verdade é que, quem me conhece, sabe que eu jamais perdi minha essência, que eu luto pela preservação dela. A tranquilidade da minha alma vale meu peso em ouro – não que eu pese muito!



Eu não quero morar nas estantes, eu quero ser cicatriz, daquelas bem hipertróficas.



Quero escrever AMOR com bic nos braços (to write Love...). Eu sei fazer ventania e plantar minhas tempestades, sei cair e levantar. Sei ir embora. Mas também sei ficar. Só pedir. Eu sei fazer o domingo desaparecer (desligue o rádio e a TV) e deixo versos jogados pelo chão. “Eu sei calar na hora exata” e plagiar uma bela melodia. Tente me ouvir e tente me ver. Tente me achar no lugar onde eu não estiver, porque eu faço de tudo pra perceber que sou eu...



Eu caminhava predisposta a fazer a marcha do pra sempre. Eu não tinha mapa, mas eu fiz uma trilha de pão no caminho.



Está escrito em mim, está em braile na minha pele. Não se lê com os olhos. Precisa muita sensibilidade...



E vou cantar:

Eu vou entrar na tua casa

Eu vou entrar na tua vida

Eu vou sentar e esperar tu me mandar embora mais uma vez



Sorrir e cantar mais, se não der efeito:



Estranho é o deserto dentro de ti

E os muros que me impedem de chegar

A hora marcada de um triste fim

E o medo que eu tenho de errar

Você deixou de acreditar

Você chegou a duvidar de mim

Você perdeu o seu lugar

Que por muito tempo eu guardei aqui

E agora eu digo adeus



Trilha sonora perfeita pra sair de fininho. Eu não faço barulho pra entrar ou sair, faço isso na ponta dos pés. Só sou um tumulto ambulante quando já estou dentro.

Acho que hoje não se cultiva mais a noção de dividir a vida, de construir algo em comum, de ter a vida que meus pais têm. Muita coisa pra quem tem sempre 16.

(hoje sem foto)

Comentários

Carlos disse…
Como sem foto???
Esse texto lindo (lugar comum) merecia uma foto daquelas... Espetaculares!
Beijo, Highlander!
Diário Virtual disse…
Belo texto! Adorei.

bjos
Jéss disse…
Conheço metade dos "sentidos" que tu citou.. texto liindo!

Gostei muito do blog ^^
Parabéns, tu escreve muito bem guria!

beijos'

Postagens mais visitadas deste blog

observador mirim

Meu filho exerce um fascínio sobre mim. Não me canso de estudar a anatomia dele, escutar a voz com a fala enrolada, corrigir os verbos e incentivar a não falar de si em terceira pessoa. Gosto das nossas brincadeiras e das nossas intimidades, do olhar cúmplice que temos. Mais que tudo, eu gosto de admirar a maneira como ele evolui. Ele testa os limites, arrisca, se impõem, teima, opina. Às vezes ele até me repreende. Eduardo tem uma personalidade doce e decidida. Com dois anos e oito meses já escolhe as próprias roupas, decide o que quer comer, o desenho preferido e o sabor do suco. Divide comigo uma centena de questionamentos. Nós somos muito bons juntos. Fico admirada com a visão que ele tem das coisas, as pequenas percepções e as grandes conclusões. Uma vez, antes do almoço, minha mãe cortava batatas pra fazer a salada e suspirou. Imediatamente ele perguntou se ela estava muito cansada. A naturalidade da pergunta traduzia a simplicidade da constatação, a preocupação com o esta

biscoitices

Dessas tantas ruas por onde passo, de todos os caminhos que não decoro, por tudo onde já me perdi, afirmo com certeza que nenhum rumo é plano ou reto. Há sempre uma curva, um degrau, uma pedra, um muro, uma árvore. Eu sou uma desinventora. E o que eu desinvento a mim pertence. O que não pertence, eu furto, ou roubo armada de flores, risada e cara de doida. O que é viver se não é praticar a insana alegria de mais um dia. Rotina não cansa. Desmonto as horas em minutos e na hora de montar novamente sempre sobra um tempo que vira saudade, que vira bobagem, que vira suspiro, que vira só tempo perdido mesmo. O que me aborrece é pensar que quase preciso pedir desculpa pela minha felicidade, como se a tristeza fosse servida junto com as refeições. Não tenho lentes cor de rosa para o mundo, nem sei brincar de contente, mas com tudo que já vem fora de encaixe, não preciso procurar o que mais pode ser alvo do meu descontentamento. Todos temos cicatrizes. Só procuro levar tudo de forma que e

bacio

Casar anda muito moderno. Mais moderno do que casar é manter-se casado. Em tempos onde o divórcio é presenteado com facilidades, conservar o estado civil contratado pelo casamento é um desafio moderníssimo. Os casais insistem em casar. Insistem mais do que em permanecerem casados. Às vezes o matrimônio exige insistência – a maioria das coisas que se faz em dupla exige, mas não sei porque em matéria de casamento a palavra insistência vem acompanhada de revirar de olhos e bufadas. A insistência não é ruim. Os maiores e os menores feitos da humanidade são paridos da insistência, até aquelas descobertas acidentais. Adoro casamentos, tenho cerimônias de núpcias em todos os finais de semana de outubro. Haja vestido! Acho linda aquela hora que os noivos trocam olhares de cumplicidade. Gosto mais ainda quando cochicham qualquer coisa deixando o público curioso. O noivo fala baixo no ouvido da noiva. A noiva ri. Todos ficam curiosos. Ah... juras de amor! Ou pequenas piadinhas entr