Pular para o conteúdo principal

cineminha

Sabe quando uma pessoa está falando contigo, tu estás prestando atenção, mas na tua cabeça estão passando outras coisas? Eu faço isso às vezes, olho com a maior cara de foto 3x4, mas na minha cabeça, os pensamentos estão absurdamente mais além. E a pessoa ali, na minha frente, tentando me ganhar na palavra. É pura preguiça de ir contra e explicar o meu ponto de vista, por que eu discordo ou o que eu acho de diferente. Assim a pessoa acha que concordamos, que podemos ser parecidos, até temos afinidades. Eu presto atenção e não me manifesto por pura preguiça. Óbvio que não é sempre, mas geralmente em fins de noite, fins de festa, fins de ano e quando eu sei que a pessoa se ofende muito com opinião contrária, apenas me transformo em boa ouvinte. Em certas situações a pessoa só precisa mesmo falar. Eu me proponho a só ouvir. E não é que eu concorde.

Isso mostra o quanto é difícil assumir pra um outro quem nós somos. Mostra o quanto a gente tende a jogar, a se esconder em vez de se mostrar de verdade, a ponto de a verdade parecer uma fofoca sobre nós. A verdade tenta fugir e aparecer num escape, numa ato-falho, fica gritando dentro da gente “me diga”. E a gente tentando emudecer a coitada. É muito mais fácil falar o que deve ser dito pra agradar. Concordar pra não perder. Algumas verdades chocam, traumatizam, isso quando a gente as conhece, porque às vezes podemos não saber delas. Ninguém precisa saber sempre o que sente, se ama ou não, se prefere ou não, mas até isso pode ser dito: não sei. E dizer isso não é feio.

De uns meses pra cá engatei uma marcha acelerada de mudanças de comportamentos. São baseadas no que eu já pensava, baseadas no que eu não penso mais, nos pensamentos novos que eu tenho, sem distinção ou preconceito. Joguei tanta coisa pra cima... pratiquei o desapego de ideias e conceitos. Pratiquei a reciclagem de princípios, tudo em nome de uma única bandeira: ser tão sincera de mim pra fora quanto sou de mim pra dentro. Tem que ter coragem, pro que vai e pro que vem. Dói. Doeu em mim e pode ser que doa um pouco por aí... Mas também foi bom, foi um prazer saber que posso me conhecer suficiente pra assumir mudanças, para ter atitudes e pensamentos. Fazer isso sem vergonha alguma.

Perdi o pudor de não mudar.

Parei de alimentar o dom da negação.

Já perceberam o tanto de tendência que temos pra fazer isso? E por pura falta de pausa. Queremos acelerar e acabamos reproduzindo comportamentos em círculos, sem perguntar por que estamos fazendo aquilo. Mudamos para agradar, mudamos para concordar, para sermos aceitos, mudamos para acompanhar tendências, exigências, para estarmos do lado de alguém por comodismo ou por vaidade. O filme BELEZA AMERICANA é um ótimo exemplo disso, com todos os diálogos sarcásticos, onde ninguém é livre e ninguém quer se libertar. Todos querem apenas parecer. É mais fácil parecer do que ser. Lembro-me também de uma cena de NOIVA EM FUGA, onde o Richard Gere descobre que a Julia Roberts come os ovos conforme os noivos gostam: mexidos, fritos, cozidos. Quando ele conta isso pra ela, em casa ela faz ovos de todas as espécies pra descobrir qual o que ELA gosta. E isso não é uma questão de opinião apenas. É posição na vida.

Dizer o que se pensa, o que se quer, independente do que vá acontecer. Não interessa se vai cativar o outro, assustar, seduzir. Um pingo de ilusão e fingimento é bom, colore mais, mas isso não deve se tornar a regra. Eu quero isso pra mim, poder praticar essa sinceridade aterrorizante. Derrubar em cima dos outros quem eu sou, apresentar meus lindos defeitos um a um. Contar – por mais estranho que seja – o que eu penso e acho. Vou pra fogueira? Talvez.

Decidi que não vou existir só porque eu nasci.

Decidi que eu vou viver.

Intensidade, sinceridade e pimenta a gosto.





MESMO QUE MUDE
(Bidê ou Balde)
Ela vai mudar,



Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou
Pelo jeito não descarta uma nova paixão
Mas espera que ele ligue a qualquer hora
Só pra conversar
E perguntar se é tarde pra ligar
Dizer que pensou nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que
É sempre amor, mesmo que acabe
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou


Ele vai mudar,


Escolher um jeito novo de dizer "alô"
Vai ter medo de que um dia ela vá mudar
Que aprenda a esquecer sua velha paixão
Mas evita ir até o telefone
Para conversar
Pois é muito tarde pra ligar
Tem pensado nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que
É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou
Para conversar
Nunca é muito tarde pra ligar
Ele pensa nela
Ela tem saudade
Mesmo sem ter esquecido que
É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou




***

Aconteceu uma coisa essa semana tão engraçada e ao mesmo tempo tão ridícula que eu ainda preciso pensar como contar sem ser comprometedora. Ou serei. Azar!

Comentários

Unknown disse…
Muito bom. Já virou minha escritora predileta.
Carlos disse…
Bah!
Dou força, em todos os sentidos! Procuro agir assim também e me chamam de sarcástico...
Azar! A transparência é (quase) sempre o melhor caminho!
PS. no aguardo do post comprometido... hehe
Belíssimo texto. Me inspirou a viver também!
BETO disse…
Esta é minha bocuda! Orgulho de vc.
bj
Maya disse…
Para variar um texto digno, acompanhado de uma foto maravilhosa. Admiro.

Postagens mais visitadas deste blog

observador mirim

Meu filho exerce um fascínio sobre mim. Não me canso de estudar a anatomia dele, escutar a voz com a fala enrolada, corrigir os verbos e incentivar a não falar de si em terceira pessoa. Gosto das nossas brincadeiras e das nossas intimidades, do olhar cúmplice que temos. Mais que tudo, eu gosto de admirar a maneira como ele evolui. Ele testa os limites, arrisca, se impõem, teima, opina. Às vezes ele até me repreende. Eduardo tem uma personalidade doce e decidida. Com dois anos e oito meses já escolhe as próprias roupas, decide o que quer comer, o desenho preferido e o sabor do suco. Divide comigo uma centena de questionamentos. Nós somos muito bons juntos. Fico admirada com a visão que ele tem das coisas, as pequenas percepções e as grandes conclusões. Uma vez, antes do almoço, minha mãe cortava batatas pra fazer a salada e suspirou. Imediatamente ele perguntou se ela estava muito cansada. A naturalidade da pergunta traduzia a simplicidade da constatação, a preocupação com o esta

biscoitices

Dessas tantas ruas por onde passo, de todos os caminhos que não decoro, por tudo onde já me perdi, afirmo com certeza que nenhum rumo é plano ou reto. Há sempre uma curva, um degrau, uma pedra, um muro, uma árvore. Eu sou uma desinventora. E o que eu desinvento a mim pertence. O que não pertence, eu furto, ou roubo armada de flores, risada e cara de doida. O que é viver se não é praticar a insana alegria de mais um dia. Rotina não cansa. Desmonto as horas em minutos e na hora de montar novamente sempre sobra um tempo que vira saudade, que vira bobagem, que vira suspiro, que vira só tempo perdido mesmo. O que me aborrece é pensar que quase preciso pedir desculpa pela minha felicidade, como se a tristeza fosse servida junto com as refeições. Não tenho lentes cor de rosa para o mundo, nem sei brincar de contente, mas com tudo que já vem fora de encaixe, não preciso procurar o que mais pode ser alvo do meu descontentamento. Todos temos cicatrizes. Só procuro levar tudo de forma que e

bacio

Casar anda muito moderno. Mais moderno do que casar é manter-se casado. Em tempos onde o divórcio é presenteado com facilidades, conservar o estado civil contratado pelo casamento é um desafio moderníssimo. Os casais insistem em casar. Insistem mais do que em permanecerem casados. Às vezes o matrimônio exige insistência – a maioria das coisas que se faz em dupla exige, mas não sei porque em matéria de casamento a palavra insistência vem acompanhada de revirar de olhos e bufadas. A insistência não é ruim. Os maiores e os menores feitos da humanidade são paridos da insistência, até aquelas descobertas acidentais. Adoro casamentos, tenho cerimônias de núpcias em todos os finais de semana de outubro. Haja vestido! Acho linda aquela hora que os noivos trocam olhares de cumplicidade. Gosto mais ainda quando cochicham qualquer coisa deixando o público curioso. O noivo fala baixo no ouvido da noiva. A noiva ri. Todos ficam curiosos. Ah... juras de amor! Ou pequenas piadinhas entr