Querido tempo, eu sei que a nossa relação é um pouco estranha, mas de um modo geral nos damos muito bem. Eu finjo que tu não passas, como faço com outros moços, tu finge que eu não existo Quando queres me provocar, aperta, me fazendo ter pressa. Eu implico com as tuas demoras, que juntam segundos em segundos, transformando em horas, quando preciso de tudo rapidinho. Eu sou impaciente, bato com a ponta dos dedos do mínimo ao indicador, várias vezes, sempre que tu me desapontas.
Eu me irrito contigo quando eu peço pra parar e tu segues, quando eu te quero logo e tu estás calmo, quando preciso que sejas meu amigo e tu resolves ser meu carrasco. Tu levas quem não pode, traz quem não deves.
Contrariar-me é teu esporte favorito.
Eu costumo funcionar mais acelerada do que tu. Preciso de tudo pra ontem. Adoro premeditar o meu amanhã, enquanto tu insistes em ser religioso na tua pontualidade. Nunca entendi essa tua mania de só trazer amanhã quando hoje acaba, e a minha pressa? Nunca posso comer mais uma fatia de ontem! E quando tu resolves invadir o meu hoje com o dia seguinte? Quero resolver agora as minhas dúvidas sobre daqui a pouco, para já formular mais interrogações. Para não ter mais soluções. Preciso empilhar a baderna, criar confusão, promover a desordem e tu, tempo, não me ajudas. Dizem que o tempo cura. E eu quero que não cure. Dizem para dar tempo ao tempo. Eu morro! De tempo em tempo, passou a vida. E eu não te perco, jamais.
Eu só uso relógio pra combinar com meu lenço, hoje marcava sete horas enquanto eu almoçava, marcava a mesma hora quando acordei, marcou a mesma hora o dia inteiro. Não faz mal que não tem pilha, eu não ligo. É tão decorativo quanto um anel.
Tempo, tu és muito cronológico.
Um dia, precisamos parar os dois e acertar nossos ponteiros.
Beijos, da tua, Kuky.
Comentários
E o tempo é bem teimoso mesmo ne?! Adora ser do contra.
Dã!?!?
Adoro-te!