Nunca me queixei dos meus caminhos tortos. Nunca reclamei de ter que fazer o caminho mais longo entre dois pontos. Os passos a mais sempre me deram tempo a mais para pensar. Vou reclamar de pensar muito, então. Não. Não vou.
Em um desses caminhos, entre uma pedrinha e outra, depois de uma curva e antes de um buraco, esbarrei com uma belíssima incógnita. Uma grande dúvida, de olhos apertados, verdes, cílios longos, um beiçudo simpático. Eu que sou conhecedora dos meus devaneios, que assumo as minhas imperfeições e conheço as minhas inconstâncias, experimentei a sensação do mais completo vácuo. Aquilo que falam que falta o ar, que some o chão, que não se sabe onde está, é verdade, aconteceu. Durou segundos, mas aconteceu. Ah, mas não foi paixão, não. Foi susto. Naqueles segundos me faltou tudo. Talvez até a boca tenha caído. Nos meus vinte e tantos anos de vida nunca um ser tão belo havia me dado tanta bola. Um bolão. É... ele batia um bolão.
Era lindo demais, corpo perfeito demais, sorriso branco demais. Ele era demais demais e ainda por cima cozinhava.
Eu o conheci numa jantinha na casa de amigos, quando ele foi o cozinheiro, por isso sei que comandava as panelas como um padre experiente conduz uma missa de páscoa. O sabor da comida mostrava que quem a preparou era um alquimista. O alecrim namorava o vinho branco que compunham o risoto, o funghi tinha a textura ideal. Aquele prato era uma serenata para o paladar.
Além disso, ele era coordenado. Brincou de fazer malabarismo com o limão que usaria no tempero do salmão. Arrancou suspiros de mim e das outras vinte mulheres – acompanhadas ou não – que estavam no mesmo ambiente ao abrir uma garrafa de vinho, explicando que 2004 foi um ano muito bom para a safra de Merlot na Argentina. Oh, por favor, enche logo a minha taça, a qualidade do meu flerte é diretamente proporcional ao teor alcoólico do meu sangue!!! Depois da janta lavou todas as taças sem uma trincada. Fez a maior pontuação no jogo de dardos. Uau, eu tropeço em mim mesma caminhado, a motricidade não habita este corpo. Nunca habitou!
Eu olhava – bem de perto – e não achava defeito. Ele conversava comigo e eu nem prestava atenção. Este foi meu erro! Um infinito mar de palavras e eu mergulhada naqueles olhos verdes, me afogando nos sorrisos. Quanta perfeição...
Trocamos telefones, no outro dia ele me ligou às 8:30 da manhã dando bom dia, cantando sexual healing e tocando violão. Que lindo, pena que era domingo, eu não pretendia ir ao culto, mas sim dormir até às 10! Ah, já mencionei que acordo de péssimo humor? Lembrar dos malabarismos me fez superar o pequeno ódio que habitou meu coração. Cogitei ir ao culto, já que estava acordada. Precisava agradecer a cantada, era uma dádiva!
Passamos algumas semanas nos encontrando nas convenções de amigos, entre uma janta, um carteado, qualquer coisa sem motivo. Já era claro no nosso flerte, não, melhor, era escancarado, tanto que aparecemos juntos em um dos encontros e nem surpresa causamos. Ele foi me buscar em casa, no caminho falamos pouco, estava tocando Dave Matthews, é proibido falar enquanto ele canta, se não é, deveria ter lei proibindo. Sempre estávamos junto com a nossa multidão. Beijos e abraços entre nós dois, mas conversas, bobagens, brincadeiras entre todos. Era um namoro coletivo.
Em uma dessas noites ele estava muito calado, ou melhor, mais calado. Eu fui levar o cidadão em casa, mas antes quis tomar um sorvete. No estacionamento do drive thru, eu quis conversar sobre coisas da vida e filosofar sobre tudo e nada. Nada foi o que ouvi. Depositei o mudo na porta de sua residência como quem coloca um saco de lixo dentro do latão. Ainda abanei. Sem resposta.
E lá se foi uma semana sem notícias.
Até que ele ligou. Disse que gostava muito de mim, mas que havia lido as coisas que eu escrevia, prestado atenção nas minhas brincadeiras com os amigos, nas coisas que eu conversava, nos assuntos que eu tentava ter e que não dava mais para ter continuidade a nossa história. Uau, o que começou com uma cantada por telefone, acabou da mesma maneira. Preferia que fosse por e-mail, tem aquela coisa de ler várias vezes, ficar remoendo o fim. Lindo, coordenado, bom cozinheiro, gostoso e pouco criativo. Mas o que foi que eu fiz? A resposta foi muito inesperada: “sei lá, tu é muito inteligente, se ao menos tu pudesse fingir que é mais burrinha...”
Desliguei o telefone na hora.
Não entendi muito bem aquilo. Como assim? Ele queria que eu fosse uma porta de burra???
Na semana passada teve reuniãozinha da galera e a resposta é sim. Anos depois do fato nos encontramos, ele estava acompanhado da namorada atual. Se ela caísse de quatro, pastava o carpete! Não sei se era muito burra ou se estava se fazendo. Algumas vezes os grilos constrangedores do silêncio apareciam depois que ela falava. Todos se olhavam e alguém tentava salvar o assunto. Mas ela divertiu muito a brincadeira de mímica... E apesar dele ter sido o cozinheiro, no meu prato não tinha nenhum caco de vidro ou veneno, nem sequer um purgante – o que mostra que a falta de criatividade perpetua. Ele continua cozinhando muito bem e pelo jeito com grande frequência, porque deve estar pesando 300 quilos. Belo casal.
Já falei que eu sou vingativa quando levo foras inexplicáveis? E nas terças? E quando acaba o toblerone? Não?
Então botei foto em preto e branco, porque parece que dá maior credibilidade, né...
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Sexual Healing
Oh baby now let's get down tonight
Baby, I'm hot just like your oven
Well I need your lovin', and
Baby, I can't hold it much longer
No, it's getting stronger and stronger
And when I get this feeling
I need sexual healing
Sexual healing
It makes me feel so fine
It helps to relieve the mind
Sexual healing, is good for me
Sexual healing is something that is so very good for me
Couplet :
Whenever these blue tear drops are falling, oh no
And my emotional stability is leaving me
But there is something I can do
Oh I can get on the telephone and call you up baby
Darling I know you'll be there to relieve me
The love you give to me will free me
So if you don't know the things you're dealing
Well I can tell you darling, oh it's sexual healing
Get up, get up, get up, get up Let's make love tonight
Wake up, wake up, wake up, wake up 'Cause you do it right
Heal me, my darling (x4)
Baby, you know I got sick this morning
Well a sea was storming up inside of me
Baby, I think I'm capsizing
All the waves are rising
And when I get this feeling
I want sexual healing
Sexual healing
It makes me feel so fine (it's such a rush)
It helps to relieve the mind (Lord it's good for us)
Sexual healing, is good for me
Sexual healing is something so so good for me
Couplet :
Oh it’s good for us
oh it's so good to me my baby (Whoahohh)
Just grab a hold
Come take control
Of my body and mind
Soon we'll be making love
Honey, oh we're feeling fine
You're my medicine
Open up and let me in
Oh Darling darling, you're so great
I can’t wait for you to operate (x3)
I can’t wait for you to
(Heal me, my darling)
Oh whenever these blue teardrops are falling,
You know I come calling
Heal me, my darling
Comentários
Maravilhoso o texto! E sim, P&B dá uma credibilidade maior..
beijos'
bj
Cade o teu fotógrafo Profi e Particular? Esta foto (LINDA) eu já vi!!!
Kkkkkkkkkkkkkkkk
Ri litros!
Tu é foda!
Estou curtindo...