Muitas pessoas se parecem com coisas, não fisicamente, bom... às vezes também. Acho bem possível substantivar alguém pelas características que possui quando coincidem com a coisa. Esses dias eu conheci um homem. Ele era um chuveiro elétrico estragado. Juro, um homem-chuveiro-elétrico-estragado. E antes que me perguntem se é um desaforo direcionado, não, não é. É apenas uma constatação desaguando em mais uma das minhas filosóficas teorias sobre o tudo e qualquer coisa, com um fundo de verdade. Ou não.
Um chuveiro elétrico tem sempre as suas temperaturas, pelo menos as básicas: inverno e verão. Quando estraga, é indiferente o lado para o qual aponta a seta, a água sai invariavelmente morna. É fria demais pro banho no inverno, mas dá pra aguentar. Toma-se banho rapidinho e se salta de dentro do box na ponta dos pés, bafejando nas mãos, se secando rapidinho. Arrepiei-me.
No verão, o morno fica mais quente do que precisa, a gente sai suando do chuveiro. Seca-se a água, mais o que destilou, a gente se apressa em colocar uma roupa fresca, sair em busca do ventilador mais próximo, do ar condicionado mais gelado, da brisa da janela, de qualquer coisa que impeça os poros de verterem mais água do que o próprio chuveiro. Banho quente no verão é de matar, mas para tudo há um jeito. O defeito é suportável, não é um chuveiro inútil, ele cumpre sua função de chuveiro. O banho nunca é o perfeito, porém, tudo bem. E por isso ele não é merecedor de reparos.
Esse homem é assim, morno. Faz frio, faz calor, ele segue morno. Não arrisca, é pouco ambicioso, cumpre sua função de chuveiro. Vive bem sem ser feliz, não porque é triste, mas porque não conhece a felicidade, não ousou ousar. A vida é linear e os dias se repetem. Os erros são os mesmos. Os acertos são iguais. Nada de surpresas. Um fim, um começo, um dia, depois outro e assim até que eles acabem. Ele está embrulhado numa ignorância sentimental.
Eu sou dotada de uma compaixão que não sei explicar com esses tipos. A alegria e a tristeza são gêmeas escandalosas e quem muito cala pouco sente. Sou a favor de sentir na vida, sem preconceitos. Sentir amor, decepção, dor, felicidade, dó, orgulho... É preciso vibrar pra ser verdadeiro. Eu não sei medir as palavras como gostaria e a maioria das coisas que eu digo dão margens às mais diversas interpretações. Fico inquieta ao ver apatia por desconhecimento. Falta de sede, falta de fome, é apetite por convenção apenas. É passar pelo caminho porque era isso que estava no roteiro, sem pular o muro, sem subir na árvore, sem invadir um quintal, sem andar em ziguezague. É como comer arroz com feijão todos os dias.
Eu não consigo ficar inerte ao conhecer pessoas assim, sou forçada a plantar uma sementinha de pimenta. Dou na mão um punhado de pólvora e espero que ela exploda alguma coisa, alguém. Ou muita coisa e um batalhão de gente. Mostro uma bandeira e espero que ela faça uma revolução. Na verdade, se apenas olhar o horizonte e perceber que existem possibilidades, já me satisfaz. Já vai ser outra opção e o chuveiro elétrico vai poder escolher entre ter inverno e verão ou não.
O que eu queria mesmo era desencapar um fio, dar choque, provocar um curto circuito. Amo soluções drásticas.
(e conheço boas terapeutas)
Pérolas da Praia:
Fido: Mamããããe, socoooorro!!!
Eu: Que foi, Fido???
Fido: Nenê não consegue!
Eu: Não consegue o quê?
Fido: Voaaar!
Eu: Mas a mamãe também não voa, só quem voa é passarinho!
Fido: É?
Eu: Sim!
Fido: E o avião?
(Fido 1 x 0 Mamãe)
Fido: Quero picolé.
HORA: 05:23 a.m.
(Fido 2 x 0 Mamãe)
Na fruteira:
Fido: Quero couve-flor.
Eu: Ok, vamos levar.
Fido: Quero agora!
Eu: Fido, eu levo e faço em casa, agora está crua!
Fido: Quero a couve-flor agooooora! (puxando a couve-flor do balcão)
Eu: Quem sabe come um picolé agora... Pode ser?
Fido: Pode.
Eu: Qual picolé? De chocolate?
Fido: Não.
Eu: De coco?
Fido: Não.
Eu: Então olha aqui dentro qual tu queres...
Fido: Quero de couve-flor.
(Fido 3 x 0 Mamãe)
Fido: Eu quero ligar pra bisa.
Eu: Vamos ligar então!
Fido: Mas tu fala.
(Fido 4 x 0 Mamãe)
E DAÍ, depois da maravilhosa janta que eu fiz pra mim mesma, abri um pote achando que tinha sorvete e era massa com camarão. Decepção de hoje, almoço de amanhã.
(Minhã mãe 1 x 0 Eu)
Estou levando goleada.
Música de praia: Djavan, Lilás.
Amanhã
Outro dia
Lua sai
Ventania abraça
Uma nuvem que passa no ar
Beija
Brinca
E deixa passar
E no ar
De outro dia
Meu olhar
Surgia nas pontas
De estrelas perdidas no mar
Pra chover de emoção
Trovejar...
Raio se libertou
Clareou
Muito mais
Se encantou
Pela cor lilás
Prata na luz do amor
Céu azul
Eu quero ver
O pôr do sol
Lindo como ele só
E gente pra ver
E viajar
No seu mar
De raio.
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Mais um texto incrível!