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(des)graças virtuais

Lembram que há posts atrás comentei sobre um fato engraçado que havia acontecido, mas eu não podia ainda contar porque não sabia como? Pois bem... contarei. Antes, é sempre bom lembrar que não é nada pessoal, tudo em nome da literatura. Faz de conta que aconteceu com a prima de uma amiga da sobrinha da vizinha da minha irmã. Ah, eu gosto de inventar personagens para fatos reais e me agradam fatos fictícios para personagens reais, também me autorizo complementar a verdade, inventar outras e ajeitar do jeito que eu bem entendo. Já que sou eu quem escreve, eu posso tudo.

Não sou democrática quando escrevo. Nem quando tenho fome.



Era uma vez, uma festinha. Dessas festinhas que acontecem todas as semanas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas reunidas, que a gente já tem até uma noção do que vai tocar, do que vai acontecer, de quem vai encontrar. Essas festas onde não precisamos de dons mediúnicos pra prever incomodação ou com quem se vai embora, melhor, com quem não se vai embora. Mas boa. Todos alegres, risadas, clima descontraído, bebida gelada. O ambiente com iluminação ideal, lotação da casa na medida para se poder ir ao banheiro sem enfrentar longas filas – o que conta muito quando se bebe água a noite inteira.

Um grupo de amigas no balcão, um sujeito que dançava esquisito se aproxima. Elas acham graça. Ele fica empolgadíssimo, dança mais ainda, sozinho, vira atração delas. Um outro cidadão estaciona ao lado do grupinho, encostando-se no bar e começa uma conversa com uma delas. Ele é lindo, com aqueles malditos cílios longos. Dono de um sorriso magnífico, moreno, alto e articulado – o que anda tão difícil de encontrar quanto banheiros sem filas nas festas. As outras amigas, por trás dos ombros dele, fazem sinal de positivo, aplaudem, fazem reverências para a escolhida, desconsiderando que tem um gigantesco espelho na parede, atrás dela.

- Acho que as tuas amigas gostaram de mim...

Oh, Deus, ainda por cima ele encarou numa boa as maluquices das amigas.

Conversaram por horas. Ele não era daqui, mas vinha com frequencia. Trabalhavam praticamente na mesma área, inclusive, tinham conhecidos em comum, partilhavam as mesmas opiniões. Ele era educadíssimo. E cheiroso. E inteligente. E passaria mais algumas linhas escrevendo qualidades. Em momento algum ele tentou passar dos limites que ela estabeleceu tacitamente. Um beijo dado em uma outra oportunidade seria perfeito. Ele entendeu isso e conduziu a corte, foi uma noite de sedução. Um envolveu o outro. Era óbvio que os dois se queriam e estavam apenas prorrogando o inevitável. Parecia que não existia mais nada em volta, nem a música alta atrapalhava o assunto. Era como se conhecessem desde criança, antigos amigos descobrindo a paixão.

Eu disse paixão? Ah, sim, foi. Paixão dessas que surgem porque a pele combina quando se encostam, porque surgiu uma energia, lei da atração, não sei, elejam uma desculpa. Quando o assunto é paixão, todo mundo tem desculpas de sobra, para justificar o início ou o final dela.

E com uma desculpa das mais esfarrapadas, ela decidiu ir embora.

- Olha, eu volto daqui a duas semanas, me dá teu telefone? Quero continuar o nosso assunto.

- Claro.

E deu. Calma, o número do celular e nome completo. No caminho para a rua encontrou uma das amigas, acompanhada de um cidadão muito bem apessoado, que gentilmente acompanhou as moças até a saída, pagando a conta da sua gatinha. O galanteador ainda foi junto até o estacionamento para garantir que chegariam em segurança – por mais que fosse apenas atravessar a rua, foi bonitinho. Ele foi embora poupando a amiga que estava desacompanhada dos beijos intermináveis próprios de despedidas de namorados. Parecia que sabia que as amigas precisam de fofoquinhas pós-festa antes de cada uma entrar no seu carro.

- Que querido ele! E bem bonitinho.

- É... me agradei. E tu? Que gato aquele cara. Vocês ficaram?

- Não... acho que ficou pra próxima. Ele não é daqui, mas volta em duas semanas.

- Pegou telefone?

- Não, mas ele pegou o meu.

- Hmmm... bom. Vamos embora?

- Ai, ai, sim...

No outro dia, às DEZ da manhã, o celular resolveu tocar. Ele? É ele? Não... é a amiga.

- Precisava te ligar!

- O que aconteceu?

- Tu não vais acreditar!!!

- Vou sim, claro que vou. Só me falar.

- O meu gatinho de ontem, o que eu beijei, que pagou a conta, que nos levou até o estacionamento...

- Sim, sei, o que tem ele?

- Entrei na página dele, ele tem 22 anos!

- Jura?! Nem parece.

- Tu não está entendendo... quando ele nasceu eu já sabia ler e escrever!

- E daí? Olha, ele tem mais atitude que muito homem mais velho.

- Não. Acabou. Sem assunto com ele.

Sites de relacionamento servem pra acabar com relacionamentos. Mesmo que ainda nem tenham iniciado. Aniquilam expectativas. Qualquer informação pode e será usada contra você! Maldita modernidade. Na idade da pedra isso nunca aconteceria. Era ele acertar ela com um tacape e deu! Tanto faz se ela já fazia pintura rupestre quando ela nasceu.

Eu sempre acho isso engraçado. Mais engraçado ainda foi o final do primeiro romance da noite. Lembram? Uma das amigas com o forasteiro lindo...

Já era terça e o moreno dos cílios longos não havia sequer ligado a cobrar. Até aí, tudo bem, seguindo a cartilha. Depois de um dia de trabalho, em casa, recém saída do banho, ela entrou no site de relacionamentos e tinha uma nova solicitação de amizade: Fulano de Tal quer ser seu amigo. Fulano de Tal... é ELE!!!

Ela pula da cama, faz uma dancinha ridícula, canta a música da vitória do Ayrton Senna enquanto corre pelo quarto fazendo o “V”de vitória com uma mão e segurando um volante imaginário com a outra. Antes de aceitar a amizade, pega o telefone e liga pra amiga, claro.

- Tu nem saaaaabe! O Fulano de Tal, de sexta, acabou de me adicionar.

- Aceita! Aceita!

- Preciso de um uisquinho pra aceitar.

- Não seja besta, aceita logo!

- Ta... aceitei...

- Tem foto?

- Arram, tem. Fulano de Tal em um relacionamento sério com Beltrana. Foto dos pombinhos, bem abraçados!

Só rindo, né?!
Sites de relacionamento são os fofoqueiros modernos. Os intrigueiros gratuitos.
Pelo menos rendem boas risadas. O que me faz lembrar de outra história.

De uma moça que conhece um rapaz numa festa. Eles ficam, passam a festa inteira juntos. Na saída, ela pega o celular, acessa a internet para adicionar o novo troféu na sua lista virtual de conquistas e descobre que ele tinha namorada. A lealdade feminina dominou aquele corpo. Sentiu-se traída, mesmo tendo ela traído. Deixou recado para a namorada, pedindo desculpas pelo fato e contando que seu namorado era um belíssimo exemplar de safadeza.

Ah, o mundo virtual... Ah, os estragos reais. Só rindo, né?! Isso agora, porque o namorado era meu e na hora, não teve muita graça.

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Acreditam que não há mágoas quanto a isso?!
Tsunamis em banheira... não pratico.
 
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Nada de preto e branco, folga para a credibilidade.
 
 
 
 
Música que é tão doismilecinco.
 
UM POUCO DE CALOR
(na voz do Ney, lógico)
 
Saí à toa nessa madrugada


Sem saber porquê

A noite daqui é tão linda e faz me perder

Penso num belo horizonte em poder te ver

Sei que eu não tenho mais nada a perder



Meu carro que não quer mais andar

Essa noite que não quer terminar

Onde está você meu amor?

Eu preciso de um pouco de calor



Saí à toa nessa madrugada

Sem saber porquê

A noite daqui é tão linda e faz me perder

Penso num belo horizonte em poder te ver

Sei que eu não tenho mais nada a perder

Se eu não tenho mais nada a perder

No meu peito eu tenho você

É nessa estrada que eu quero estar

Eu quero o dia, a noite e o mar e cantar



Meu carro que não quer mais andar

Essa noite que não quer terminar

Onde está você meu amor?

Eu preciso de um pouco de calor

















































































Comentários

Keila disse…
Ahh, esse mundo virtual. Que lealdade feminina essa ne?! Acho que ele nunca mais fará isso com ninguém. rs
Tu com esses "contos" bem contados e cheios de pontos, conseguiria ser Best-seller.

E credibilidade pra que tendo esses olhos de felina? Credibilidade é para os fracos! hahahha'

beijo'
FER disse…
SAUDADE DE APRONTAR UMA NOITE FURTE CONTIGO SÓ NA AGUINHA.

BEIJOS
Diário Virtual disse…
Hahahahahah esse mundo virtual, hein! Pqp!!!!!

Melhor que revista contigo, fofoca da vizinha, da fulana, da beltrana. O virtual é mais real.

Bjo bjo ;)
Carlos disse…
Muito boa a tua es/his-tória!
Mas hoje só vou comentar a foto...

Acho que eu já escrevi isso, mas o sol te reverencia... Deve ter algo a ver com os Red Delicious.
Coisas dos Deuses!
disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Jô disse…
Aposto uma vodka que sei quem falou "É... me agradei. E tu? Que gato aquele cara. Vocês ficaram?"

hahahah e olha que pra apostar em vodka eu tenho que ter muita certeza!

Guria, eu odeio o mundo virtual.. sou tão mais feliz sem ter pretÊs/futuros namorados,maridos,pai das crianças em faces e msns da vida...

Esse papinho virtual estraga tudo.. é muita informação, é muito acesso... muita invasão!
Rick disse…
Sou novo por aqui...
Adorei!
Estilo único e próprio, altas doses de humor, textos envolventes.
Estou te seguindo!
BETO disse…
Madame tecnologia, eu sei no máximo mandar sms! huahuahuahua
Bocuda, linda essa foto o fotógrafo é muito bom. Mto gostoso e queridao tb. Ninguem dramatiza tao bem como vc, lembro de vc contando o fato.
bj
Rô disse…
Eu amo vc do início ao fim, modelete. SAUDADE DE GANHAR TEU COLINHO.

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