Oi. Vim desdizer. Só vim pra desdizer, essa é a grande verdade das próximas linhas. Isto não é uma crônica, é uma borracha. É um backspace, um ctrl + z, um delete, um eject. Entendam como bem quiserem, porque duvido mesmo que alguém se disponha a querer de fato entender. Supor é mais fácil. Prever é mais cômodo. E quer saber? Certo está quem faz isso.
Aquele medo que eu havia mandado sentar no canto está aqui na minha frente, rindo da minha cara, dizendo “eu te avisei”. Chutaria ele, mas não costumo fazer isso com quem tem razão. O medo é o grande vencedor, leva todos os prêmios. Leva todas as vidas. Abraça a todos. É o sentimento mais confortável, porque não se foge dele. O que não é bom, queremos longe e ninguém ou quase ninguém – faz isso com o medo. Pelo contrário, o medo é mantido pertinho. Sem enfrentamentos, sem discordar, nada se questiona. Medo é a perfeição da preguiça. Amar dá trabalho. Sentir medo, não. O amor é importante, porra. Vi isso pichado num muro. Parem. Não é.
Não mandem flores, não mostrem preocupação, não sintam saudade. Não retornem ligações, não mandem mensagens carinhosas, não sonhem com ninguém. Não cultive sorrisos, não abrace, não vele a beleza de um sono. Não explique suas teorias, não diga quem é, não seja intenso, não diga o que sente, o que prefere, do que gosta ou o que odeia. Tudo será suposto, não derrame você. Ninguém quer secar.
“APESAR DAS MUITAS CONVERSAS, POUCA COISA FORA DITA. O ESSENCIAL SEMPRE FICARÁ NO FUNDO, ESMAGADO PELA SUPERFICIALIDADE.” São palavras do Caio Fernando Abreu, estavam nas paredes do meu quarto pra que jamais esquecesse de tirar o essencial do fundo, jamais deixasse a superficialidade esmagar o meu essencial. Bobagem. O essencial que permaneça no fundo. A superficialidade é o que se quer. O essencial é um Hades. É um monstro de sete cabeças. Um cogumelo venenoso. Uma barata na cozinha.
Caio também disse que os dragões não conhecem o paraíso, é meu texto preferido. Eu, como bom dragão, jamais conhecerei. Sigo o destino de ter sempre razão em incinerar frases ditas por outros alguéns, de acordar diferente do normal, de fazer barulho demais, fazer muito alarde. Não vejo a banda passar porque eu sou a própria banda. Andar na ponta dos pés é um esporte que eu nunca soube praticar. Eu sou inquieta e faço bagunça. Sou desmedida. Não peço licença, não pedia desculpa.
Esqueçam tudo que eu já disse sobre sinceridade, sobre cansar de jogar, sobre não criar expectativas. Esqueçam tudo que eu falei sobre não ter TPM ou resolver traumas. Comprem TPM na farmácia, inventem grilos, preguem chifres na cabeças das galinhas, não expliquem, confundam. Sejam imorais, irreais, surreais e ainda assim sejam comedidos. Imponham limites, aliás, limitem o tempo. Cronometrem afeto. Meçam dedicação e, mais que isso, cobrem a conta. Amor que não cobra a conta não pode existir. É proibido gostar diferente. Peçam algo em troca, peçam tudo em troca, queiram tudo. Façam do relacionamento uma estatística. Façam do casal um negócio com lucros e dividendos sentimentais. E não admitam nada, pode ser crueldade. Falem pelo outro e não escutem.
O amor é tão simples que dificultar é obrigatório.
O amor é tão sem sentido que está na contramão.
Abusem do quase. Neguem a completude. Reneguem o carinho. Quem mais precisa dele não vai querer receber. É oferecer água a quem quer morrer de sede no deserto.
Carpinejar – a quem muito devo - escreveu na crônica FULMINANTE: "Sou do amor fulminante, como um enfarte. Perder a razão. Casar na hora, em dias, esquecer que não era possível, esquecer as dificuldades, esquecer os entraves e pormenores. Não dar tempo para criar problemas. Não dar tempo para ponderar com opiniões dos próximos. Não aceitar conselhos de ressaca, decidir ébrio e arrepender-se amando. Ultrapassar-se. [...] A aliança nem conheceu minha mão direita. Mal cumprimentou [...] Não me exibo, caso. Não faço futuro, caso logo pra fazer passado". A camisa do meu time tinha esse escudo. Virei a casaca. Devia ter algo na minha água, de novo o pó de abril.
Vou pro time do último, do fundo falso. Sim, há ironia nisso... Mas de que adianta o Universo conspirar a favor se podemos teimar contra?!
Esqueçam de tudo que eu lembrei. Voltem a enterrar tudo que eu desenterrei. Cubram as verdades, fechem as janelas, pintem as paredes de cor escura. Não dancem sem música, não andem saltitando pelo corredor, não cantem pra desafinar, muito menos inventem a letra, nem palavras. Não entendam, não respeitem, invadam, violem, explodam. Não confiem em mim! Eu sou apenas uma ex investidora da bolsa de valores pessoais. Meus valores faliram e eu não percebi. Sou ultrapassada e antiquada. Engordem o baú de guardados. Essa é a fórmula. Não sentem nas nuvens, isso é importante. Desacreditem. Duvidem. Façam a prova real.
Tudo bem, não é tudo que se vê por aí? Não é o certo? O comum? Falei alguma novidade?
Desliguem os livros, leiam a TV.
Vou na adega buscar uma garrafa de sono. E mapas, bússolas, GPS e manuais de instrução. Há regras onde a gente nem sonha. E é aí que eu me perco. Melhor, eu me perdia.
Lirismo demais me dá insônia.
Isto aqui é apenas literatura. Sem entrelinhas.
(Não perguntem se isso foi um texto impulsivo, não sejam óbvios. Ou melhor, sejam sim. Hoje eu perdi qualquer critério. )
*** Agradecimento especial ao Gu e ao Felipe, sempre presentes com a sinceridade mais afiada que qualquer navalha.
*** Agradecimento mais que especial ao Carpinejar, pela dedicatória com eco. Vou voltar pro time, mas só na primavera. O outono é um bom velório.
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E por ter citado dois mestres da literatura no texto, a trilha sonora vai com dois mestres também.
Al Lado Del Camino
Fito Páez
Me gusta estar a un lado del camino
fumando el humo mientras todo pasa
me gusta abrir los ojos y estar vivo
tener que vérmelas con la resaca
entonces navegar se hace preciso
en barcos que se estrellen en la nada
vivir atormentado de sentido
creo que ésta, sí, es la parte mas pesada
en tiempos donde nadie escucha a nadie
en tiempos donde todos contra todos
en tiempos egístas y mezquinos
en tiempos donde siempre estamos solos
habrá que declararse incompetente
en todas las materias de mercado
habrá que declararse un inocente
o habrá que ser abyecto y desalmado
yo ya no pertenezco a ningún istmo
me considero vivo y enterrado
yo puse las canciones en tu walkman
el tiempo a mi me puso en otro lado
tendré que hacer lo que es y no debido
tendré que hacer el bien y hacer el daño
no olvides que el perdón es lo divino
y errar a veces suele ser humano
no es bueno hacerse de enemigos
que no estén a la altura del conflicto
que piensan que hacen una guerra
y se hacen pis encima como chicos
que rondan por siniestros ministerios
haciendo la parodia del artista
que todo lo que brilla en este mundo
tan sólo les da caspa y les da envidia
yo era un pibe triste y encantado
de Beatles, caña Legui y maravillas
los libros, las canciones y los pianos
el cine, las traiciones, los enigmas
mi padre, la cerveza, las pastillas los misterios el whiskymalo
los óleos, el amor, los escenarios
el hambre, el frío, el crimen, el dinero y mis 10 tías
me hicieron este hombre enreverado
si alguna vez me cruzas por la calle
regálame tu beso y no te aflijas
si ves que estoy pensando en otra cosa
no es nada malo, es que pasó una brisa
la brisa de la muerte enamorada
que ronda como un ángel asesino
mas no te asustes siempre se me pasa
es solo la intuición de mi destino
me gusta estar a un lado del camino
fumando el humo mientras todo pasa
me gusta regresarme del olvido
para acordarme en sueños de mi casa
del chico que jugaba a la pelota
del 49585
nadie nos prometió un jardín de rosas
hablamos del peligro de estar vivo
no vine a divertir a tu familia
mientras el mundo se cae a pedazos
me gusta estar al lado del camino
me gusta sentirte a mi lado
me gusta estar al lado del camino
dormirte cada noche entre mis brazos
al lado del camino
al lado del camino
al lado del camino
es mas entretenido y mas barato
al lado del camino
al lado del camino
Samba do Grande Amor
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque de Hollanda
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
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