Assim como o meu filho, também carrego no meu porta-malas pedras e letras. Comentei que o Eduardo ganhou de natal um carro, desses de pedalar e que tem um bagageiro, não muito grande, mas cabe uma que outra coisinha. Perguntei o que ele carregava ali, a resposta foi uma das melhores: pedras e letras. Ele, com dois anos, já descobriu o que eu demorei algum tempo para saber. Não interessa a capacidade do porta-malas, reserve espaço suficiente para carregar as letras e as pedras.
São os itens mais importantes. As letras formam as palavras, não sempre para serem ditas, também para serem escutadas, digeridas, guardadas, escritas. Pelas palavras a gente se comunica, pede informação sobre o caminho, informa a si mesmo que se perdeu. As letras formam as tatuagens internas, compõem o pensamento, afinal, não se pensa abstrato, se pensa concreto. As palavras são projetadas na estrada, como as placas que guiarão o caminho de volta pra casa.
Uma letra dará a mão pra outra, costurando a mensagem que vai dentro na garrafa.
Os substantivos serão formados pelas letras e também os nomes que a boca sussurrará buscando diminuir a distância. Serão feitos carinhos ao pé do ouvido com elas. As palavras servirão de lição, porém, devem ser selecionadas. Devemos levar todas as letras, mas nem todas as palavras. Há aquelas que não devem ser ditas, porque precisam de lapidação.
As pedras contarão histórias. Juntaremos justo as que nos fizeram tropeçar. Guardaremos aquelas que nos provocaram quedas, que gravaram declarações na nossa pele em forma de cicatriz. As pedras serão atiradas quando necessário. Livrar-se das pedras dá uma sensação de leveza.
As pedras serão únicas em seu formato, cor e textura. São o concreto do desgosto, mas juntas, empilhadas, são o que nos elevam a um degrau superior. As pedras serão nossos antagonismos, nossos desesperos, as arrogâncias, as frustrações. Não as carregamos para serem remoídas ou relembradas, mas porque nos compõem. Precisamos das pedras para sermos autênticos. Gravamos em pedra aquilo levaremos com orgulho, pendurado no pescoço. Nossas melhores lembranças também são pedras, estão alojadas no muro da memória. Cobrirão alguns buracos, preenchendo vazios como se fossem forjadas para aquele espaço.
Hoje eu carrego letras e pedras para todos os lados, demorei para entender que sou feita delas. Eu demorei para aceitar. Ando carregando muito mais do que letras e pedras, ando confeccionando mais bagagem. Mas uma coisa não ocupa o lugar da outra.
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Como se explica um determinado nível de intimidade e de se sentir - bem - à vontade com alguém que se tem pouco tempo de convívio? Ou melhor, "convívio".
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Sweet Thing (Van Morrison)
And I will stroll the merry way
And jump the hedges first
And I will drink the clear
Clean water for to quench my thirst
And I shall watch the ferry-boats
And they'll get high
On a bluer ocean
Against tomorrow's sky
And I will never grow so old again
And I will walk and talk
In gardens all wet with rain
Oh sweet thing, sweet thing
My, my, my, my, my sweet thing
And I shall drive my chariot
Down your streets and cry
'Hey, it's me, I'm dynamite
And I don't know why'
And you shall take me strongly
In your arms again
And I will not remember
That I even felt the pain.
We shall walk and talk
In gardens all misty and wet with rain
And I will never, never, never
Grow so old again.
Oh sweet thing, sweet thing
My, my, my, my, my sweet thing
And I will raise my hand up
Into the night time sky
And count the stars
That's shining in your eye
Just to dig it all an' not to wonder
That's just fine
And I'll be satisfied
Not to read in between the lines
And I will walk and talk
In gardens all wet with rain
And I will never, ever, ever, ever
Grow so old again.
Oh sweet thing, sweet thing
Sugar-baby with your champagne eyes
And your saint-like smile...
Comentários
I loved it!!!
Gostei das "tatuagens internas".