Não sou do tempo das cartas de amor. Sou no máximo do tempo de bilhetes em guardanapos. Eu gosto dos recados curtos de amor. Compenso a economia de palavras nos gestos. Isso não me leva a comprar cartões com dizeres ou me utilizar do que alguém já disse, não. Uso as minhas palavras originais de fábrica, ainda que encontre nas citações alheias e nas canções muito do que eu quero dizer. Escolhi viver o amor, viver a paixão. Escolhi das declarações ditas nos olhares, impressas nos gestos ou declaradas de improviso, daquelas em que as palavras se conhecem e casam na hora. Minhas declarações são um sem-fim de sem-tempo. São quase impensadas, quando não são de fato!
Tenho vivido mais, ando mais crente. Falo aqui tanto de Deus, quanto dos destinos e das energias que podem aproximar as pessoas. Tenho vivido o que acredito. Tenho encontrado o escambo de informações, filosofias, palavras, carinhos, peculiaridades que me absorvem como faria um buraco negro. Tem sido interessante me entregar às mesmas coisas que sempre me fizeram correr léguas sem olhar pra trás. Não tem como negar a série de incríveis começos que estão acontecendo, a atração de tudo como se houvesse imã, o encaixe desenhado por dedicados arquitetos. Ando me dedicado como nunca, por vontade minha. Fiz até tema de casa, não ganhei estrelinha no caderno, ganhei o melhor beijo e um sorriso.
E quando fico sozinha, concentrada em algum afazer, ele invade minha mente. Peço licença, ele não sai. Em seguida vem a lembrança do abraço de um braço só, a manha pra ganhar agrado, o emburramento de tédio no sofá, o rosto bonito dormindo, iluminado pelo azul da televisão. Eu gosto da respiração forte no meu ouvido durante o abraço e dos gestos mais carinhosos, como ajeitar meu travesseiro ou servir água no copo quando ele toma no bico. Tão bonitinho que nem confessei que sempre tomei água no bico...
Esse negócio de gente com alma grande me fascina. Alma que não cabe no corpo, com tanta energia acumulada que se sente preso. Ele me disse que gostava de desenhar. Dei uma caixa com tudo que tinha direito, inclusive papel, pra quando o lado de dentro precisasse fugir. Dizia isso, mais ou menos, no manual de instruções – tão resumido quanto meus bilhetes de amor – que ele leu! E riu. Eu me amarro no jeito obstinado que ele tem, nas convicções, nos empenhos pra me convencer de qualquer coisa. Gosto do jeito que o pensamento dele vai ali e já volta. Volta sempre com uma outra observação.
Uma vez disse que ele me inspirava ao mesmo tempo que me instigava. Verdade.
Umas vezes ele age como se não fizesse ideia do tamanho que tem, do quão rico é.
Parece que ele me seduz sem querer. Eu me pego rindo sozinha, até durante o banho. “Eu sou uma ridícula” é o que vem logo depois do meu próprio flagrante de devaneio. Tem como não rir da maneira como ele me fala as coisas? De me chamar de dentuça como se fosse elogio? De colocar apelidos leguminosos na minha ruivice? Ou do ego que inflou tanto na sala que quase me deixou sem ar? E as manias? Nossa, e o tanto que eu gosto das manias? Já falei das rabugices? Dos vincos que ele borda entre as sobrancelhas quando vai falar de coisa séria? Já disse que interpretamos tantas coisas iguais, que ele também curte AC/DC, lê jornal, tem uma gata e é de virgem?
Ando quase uma terrorista. Esbarro em mais coisas por metro quadrado. Eu, apaixonada, sou quase uma tragédia ambiental. Respondo coisas desconexas para perguntas simples:
- Açúcar ou adoçante?
- Quarta-feira, de preferência na parte da tarde... (ops)
- Os relatórios estão assinados?
- Prefiro verde.
Se me pedem para abrir a janela, volto com um copo de água. Preciso ligar para alguém, pego o celular e verifico se tem mensagem. Não. Ligar pra quem, mesmo? Quase dei banho na cadela usando carpex, vidrex, errorex. Ando perigosa. Escovei os dentes duas vezes antes de dormir.
Desconfigurada, porém, felizinha!
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Acho engraçado que eu nunca fiz uma poesia na vida, sequer tentei rimar amor, dor e flor numa mísera frase adolescente. Mesmo assim, por deboche ou descaso, sempre acham que escrevo poesia. Eu sou filósofa, ora bolas. E pior, filósofa de araque, dessas que explora o que desconhece, tecendo teorias absurdas, mirabolantes, com muito mais perguntas que respostas. Pego o que serve, engarrafo, coloco na geladeira pra depois. Pego o que não serve, varro para baixo do tapete e espero que volte. Espero que sirva. Espero. Esperar nunca é pontual. Filosofia barata é assim também, nunca é pontual, junta um monte de tudos, de nadas e pronto.
Tenho alma de filósofa por opção – ou falta delas. Tenho alma de poeta por maioria de votos.
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(ouvi taaaaaaanto Elisa, que a música do post tinha que ser dela!)
Ti Vorrei Sollevare - Elisa
Mi hai lasciato senza parole
Come una primavera
E questo è un raggio di luce
Un pensiero che si riempe di te
E l'attimo in cui il sole
Diventa dorato
E il cuore si fa leggero
Come l'aria prima che il tempo
Ci porti via
Ci porti via
Da qui
Ti vorrei sollevare
Ti vorrei consolare
Mi hai detto ti ho visto cambiare
Tu non stai più a sentire
Per un momento avrei voluto
Che fosse vero anche soltanto un po'
Perchè ti ho sentito entrare
Ma volevo sparire
E invece ti ho visto mirare
Invece ti ho visto sparare
A quell'anima
Che hai detto che non ho
Ti vorrei sollevare
Ti vorrei consolare
Ti vorrei sollevare
Ti vorrei ritrovare
Vorrei viaggiare su ali di carta con te
Sapere inventare
Sentire il vento che soffia
E non nasconderci se ci fa spostare
Quando persi sotto tante stelle
Ci chiediamo cosa siamo venuti a fare
Cos'è l'amore
Stringiamoci più forte ancora
Teniamoci vicino al cuore
Ti vorrei sollevare
Ti vorrei consolare
E viaggiare su ali di carta con te
Sapere inventare
Sentire il vento che soffia
E non nasconderci se ci fa spostare
Quando persi sotto tante stelle
Ci chiediamo cosa siamo venuti a fare
Cos'è l'amoreStringiamoci più forte ancora
Teniamoci vicino al cuore
Comentários
beijo, Lau.
A torcida foi grande...
Será que a gente exagerou?
bjs eu te amo